segunda-feira, 4 de maio de 2015

Retrospectiva

Pra quem não sabe, no dia de ontem, quando do apito final do árbitro Rafael Traci,  Afonso Vitor de Oliveira completou o décimo campeonato parananense no comando da presidência da comissão de arbitragem da Federação Paranaense de Futebol. A primeira comissão de arbitragem foi formada no final do ano de 2005, época em que o futebol paranaense atravessava um momento de turbulência, ainda sob o comando de Onaireves Nilo Rolim de Moura, de triste memória.

Naquela época, o que mais se ouvia eram denúncias contra tudo e contra todos, principalmente contra a arbitragem paranaense. Ser árbitro de futebol no Paraná era sinônimo de vergonha, pra não dizer outra coisa. Internamente todos sabiam que a quase totalidade era composta de pessoas sérias e comprometidas com o futebol. Mas havia um pequeno grupo de pessoas que usavam a arbitragem para proveito próprio. Após a corajosa denúncia capitaneada por Evandro Roman, uns foram condenados, outros eliminados, e ainda uma minoria que contou com a sorte para sair de fininho pelas porta dos fundos, como se nada tivesse acontecido.  Não tenho dúvidas que o convite para Afonso Vitor de Oliveira  era uma tentativa de buscar  alguma credibilidade no setor. E foi assim que tudo começou na nova realidade do futebol paranaense.

Só para que se tenha uma ideia, a arbitragem paranaense não tinha sequer uniforme para seus membros. Cada árbitro comprava sua camisa e tentava no mínimo combinar as cores com os colegas escalados, sendo que as vezes nem isso acontecia. Literalmente terra arrasada. Em 2006, iniciou-se a reconstrução da arbitragem paranaense, cuja imagem no território nacional era a pior possível.

O primeiro trabalho da nova comissão era separar o joio do trigo. Por incrível que possa parecer, algumas figurinhas carimbadas ainda insistiam em querer continuar apitando futebol no Paraná, como se  fosse um quadro negro que pudesse ser apagado sem deixar vestígios. Teve cara de pau aparecendo em dia de teste físico como se fosse um desconhecido. Outros ligavam com as mais absurdas justificativas implorando por nova oportunidade. O primeiro triênio foi de muita observação. Os membros da comissão se dividiam em viagens pra cima e pra baixo objetivando observar o maior número de profissionais, recebendo ZERO reais pelo trabalho desenvolvido. Felizmente, o Paraná contava com alguns árbitros experientes que   deram o sustentáculo necessário nesse período inicial. Chegou 2008, nova presidência na FPF e somente o departamento de árbitros não foi renovado. Reconhecimento da seriedade do trabalho.

Já em 2009, por intermediação do árbitro e professor Evandro Rogério Roman, a Associação Profissional dos Árbitros de Futebol - APAF, conseguiu firmar seu primeiro contrato de patrocínio com a Faculdade Assis Gurgacz - FAG, envolvendo entrega de uniformes, pagamento de toda despesa da pré temporada e ainda uma soma em dinheiro para a APAF. Até hoje continua como parceira da arbitragem paranaense.  

A partir de 2009, as pré temporadas passaram a fazer parte do calendário anual dos árbitros do Paraná. Praticamente todos os instrutores brasileiros visitaram nosso Estado e deram sua parcela de contribuição, alguns de nível internacional como o português Vitor Pereira. Já havia padronização, com os árbitros atuando uniformizados e com bandeira eletrônica obrigatória em jogos profissionais. Hoje pode parecer pouco mas na época era uma conquista. Posteriormente vieram os comunicadores que até hoje são utilizados.

Em 2009, informalmente  havia uma classificação,  mas não de direito. A comissão tinha uma visão clara daqueles que poderiam trabalhar ou não em jogos profissionais. A partir de 2010  houve uma reestruturação na formação dos árbitros de futebol do Estado. Criou-se a Escola de Árbitros Victor Marcassa, em homenagem a esse grande apitador, sendo seu primeiro diretor Cândido Hartmann. Foi um marco de grande contribuição para a arbitragem paranaense.

Ainda em 2010, como a FPF não dispunha de estrutura física para esse encargo, buscou parceria com a Universidade Federal do Paraná para realização do curso de formação de árbitros de futebol, fundamental para renovação do quadro local.  No primeiro curso realizado, exigiu-se curso superior (concluído ou cursando), além da limitação etária, e graças a boa seleção promovida por seu diretor, surgiram excelentes profissionais que hoje despontam no futebol profissional paranaense, alguns deles já integrando o quadro  nacional de árbitros,  e outros que seguirão o mesmo caminho em futuro breve. 

O próximo passo foi dado em 2011 com a primeira regulamentação referente a classificação dos árbitros do Estado do Paraná, mediante a criação de diversas categorias e o respectivo  âmbito de atuação de cada uma. Colocou-se um ponto final na fábrica de sonhos, onde muitos árbitros imaginavam um Atletiba no final de semana mas acabavam num jogo de futebol amador. A partir de então, cada árbitro sabia claramente onde se encontrava e o que deveria fazer para conquistar uma posição mais vantajosa. 

Também, criou-se um sistema de acesso e descenso nos moldes desenvolvidos em diversos países europeus, a fim motivar aqueles que buscavam figurar nas categorias superiores, como também evitar o acomodamento daqueles que estavam no topo da pirâmide. Para tanto, foi criado um grupo de observadores, alguns que já não mais participam do processo mas que deverão ser eternamente lembrados pois, apesar de suas limitações, foram fundamentais no  processo de avaliação. 

Com o passar dos anos, esse sistema acabou naturalmente filtrando os melhores e formando um grupo de elite de árbitros e assistentes.  Com os observadores não foi diferente. Ocorre que após saída dos árbitros e assistentes FIFA de nosso estado, coincidentemente no mesmo ano,  muitos se perguntavam se haveria material humano qualificado para preencher a lacuna deixada. Com todo respeito a Evandro Rogério Roman, Heber Roberto Lopes e Roberto Braatz, cujos talentos fariam falta a qualquer federação, suas saídas acabaram acelerando o processo e beneficiaram muitos profissionais da arbitragem paranaense que aguardavam ansiosos por uma oportunidade.

Essa transição ocorreu sem maiores problemas, e hoje a arbitragem paranaense não fica a dever nada para qualquer outra federação brasileira, dentro dos padrões da arbitragem brasileira. Ao longo desses 10 anos não me recordo de um único título parananense decidido com erros de arbitragem. Sequer nos jogos eliminatórios que antecederam o jogo decisivo. As polêmicas podem ser contadas nos dedos de uma única mão.

Seguindo a escrita, tivemos novamente uma ótima arbitragem no jogo de encerramento do campeonato paranaense de 2015, envolvendo Coritiba e o Operário de Ponta Grossa. Tecnicamente a arbitragem acertou na quase totalidade das decisões, com pequenos erros totalmente desprezíveis. Disciplinarmente falhou apenas em não expulsar o atacante Wellington Paulista que deu todos os motivos do mundo para homenagear esse blog com um vermelho direto. Nada que empane o brilho do grande trabalho realizado por toda equipe de arbitragem. Assistentes erro zero. Pra variar, Moisés trabalhou mais e Luciano foi espectador de luxo. Sorte é pra quem tem.

Parabéns Afonso Vitor de Oliveira e  todos aqueles que direta ou indiretamente construíram essa bonita história ao longo desses 10 (anos), resgatando a credibilidade da arbitragem paranaense. Amanhã pode passear com seus netos no calçadão de Londrina de cabeça erguida, com o sentimento do dever cumprido.

* A lista de destaques nesse campeonato paranaense é muito grande e prefiro não me arriscar pra evitar injustiças, principalmente com aqueles que não apareceram na telinha.

** Ao Rafael Traci meus cumprimentos e o desejo de muito sucesso nas competições nacionais que se iniciam no próximo final de semana.  E que seja eternamente grato a pessoa que sempre acreditou no seu potencial mesmo diante da desconfiança de muitos. Ele se chama José Amaral.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Rodada tranquila

Começaram as decisões no Estado do Paraná. Digo decisões, porque além da grande final entre Coritiba e Operário, tivemos também a primeira partida válida pelo título de campeão do interior, disputa envolvendo Foz do Iguaçu e Londrina, além da briga pela manutenção na principal divisão do futebol do Paraná, no terrível torneiro da morte, que este ano conta com um convidado ilustre, o Atlético Paranaense. Vejamos como foi o desempenho da turma do apito.

PRUDENTÓPOLIS 1 X 4 ATLÉTICO PR.  

Árbitro: Felipe Gomes da Silva
Assistente 1: Diogo Moraes
Assistente 2: Diego Grubba 

O árbitro aspirante a FIFA foi designado para esse jogo que poderia apresentar contornos dramáticos, na medida que envolvia o Prudentópolis jogando sua última cartada pra se manter na primeira divisão, e o Atlético que buscava reabilitação no torneiro fúnebre. Vinha de uma acachapante derrota em casa por 3 x 1 para o Rio Branco de Paranaguá. Na prática o que se viu foi a confirmação de que o Prudentópolis é a pior equipe da competição, sendo goleado em casa por um Atlético de duvidosa qualidade técnica. O carioca Felipe Gomes da Silva teve um bom desempenho no jogo, controlando a partida desde os primeiros momentos e mantendo-se firme ao longo da partida.  Tecnicamente teve uma arbitragem quase perfeita, excetuando-se o lance do primeiro gol do Atlético em que o lateral esquerdo Natanael, antes de dar o passe, ajeitou a bola com a mão, em lance de difícil percepção pela rapidez da jogada.  Na parte disciplinar foi muito bem mas cometeu um pequeno deslize formal. Ao término do primeiro tempo, próximo a entrada dos vestiários, houve algum problema envolvendo um atleta do Atlético e outro do Prudentópolis. Não houve tempo suficiente para que o árbitro  mostrasse o cartão vermelho para ambos ainda dentro do campo de jogo ou arredores. No retorno para o segundo tempo, os dois atletas não voltaram, donde se deduz que foram avisados sobre suas expulsões. Todavia, o árbitro decidiu chamar os dois capitães e por consequência vieram outros atletas na famosa rodinha, oportunidade em que ficou claro que o árbitro, ainda que timidamente e sem convicção, mostrou os cartões para os capitães. Para que não pairem dúvidas, mostrar cartão para os capitães no campo de jogo é do tempo que se amarrava cachorro com linguiça, ou numa expressão bem conhecida do excelente árbitro carioca, nos tempos que DONDON jogava no Andaraí.  Quando não for possível mostrar o cartão vermelho ao atleta porque se evadiu para o túnel, o correto é o árbitro se dirigir aos vestiários, acompanhado de preferência, chamando um funcionário oficial relacionado (técnico, auxiliar técnico), além do capitão da equipe, e simplesmente comunicar o fato, obviamente sem apresentação de cartão. O assistente 1 falhou no trabalho em equipe em dois momentos, sendo um numa cotovelada temerária desferida no rosto do atleta do Atlético, e outra num corte com a mão na bola do zagueiro do Prudentópolis como último recurso. Nesse último  coloco na conta do árbitro também. Assistente 2 teve uma atuação impecável.  Ótima arbitragem num jogo de baixa dificuldade.


OPERÁRIO 2 X 0 CORITIBA

Árbitro: Adriano Milkzvsk
Assistente 1: Bruno Boschillia
Assistente 2: Pedro Martinelli Christino

O experiente árbitro tem se tornado um rei das finais do campeonato paranaense. Neste jogo manteve o padrão com uma atuação tranquila e amplo controle do jogo. Claramente procurou segurar um pouco e valorizar eventuais cartões amarelos, mas nada que viesse a comprometer no aspecto disciplinar. Tecnicamente foi quase perfeito com um ou outro erro de interpretação sem maiores consequências. Exemplo, num dos primeiros lances do ataque do Coritiba que sob minha ótica o atacante domina a bola com a mão. Apenas estranhei a dificuldade do veterano árbitro em encontrar o melhor posicionamento com a bola em jogo, pois em diversos lances literalmente toureou com a bola pra não ser atingido. Numa delas não teve jeito. O maior da partida deu-se na confirmação do primeiro gol do Operário, marcado de forma irregular, pois o atleta que cabeceia encontra-se em posição de impedimento no momento do passe e, portanto,  interfere no jogo. Lance dificílimo que no momento do jogo passou totalmente desapercebido, e somente notei ao assistir um programa de debates à noite, onde aparece o  referido lance em outro ângulo mais lateralizado. Sem querer defender o  assistente 2, falhou num lance que provavelmente 99% dos assistentes também falhariam. Claro que o acerto nesse tipo de lance é sempre o diferencial dos assistentes acima da média. Por sua vez, o assistente 1 teve uma excelente percepção ao indicar infração de impedimento do atacante do Operário que concluiu para gol, justificando o escudo FIFA que ostenta no peito. Muito bom  trabalho da equipe de arbitragem num jogo que considero de média dificuldade. 

FOZ DO IGUAÇU 1 x 1 LONDRINA  

Árbitro: Paulo Roberto Alves Junior
Assistente 1: Rafael Trombeta
Assistente 2: Adair Carlos Mondini

No sábado a noite acompanhamos ao vivo a primeira partida da final do interior. O jovem Paulo Roberto Alves Junior repetiu as grandes atuações ao longo da competição, realizando uma ótima arbitragem num jogo que exigiu mais que os anteriores, tanto no aspecto técnico como no disciplinar. Foi uma arbitragem segura, que soube valorizar as disputas leais pela posse da bola, interferindo minimamente e somente o fazendo quando os  atletas passavam um pouco do limite, sem banalizar o cartão amarelo. Interferiu disciplinarmente somente nos casos em que se fez necessário, sem perder o controle da partida em momento algum.  Foi muitíssimo bem na parte técnica, com três grandes decisões relativas a supostos tiros penais, sendo uma por toque não intencional na mão, outra por eventual carga legal, e ainda um terceiro lance em que o atacante simula uma infração, recebendo corretamente o cartão amarelo.  Seu preparo físico permite dar maior dinâmica ao jogo sem interrupções constantes e desnecessárias, aplicando conceitos de uma arbitragem moderna. Os assistentes tiveram um ótimo desempenho, sem quaisquer erros. Ótima arbitragem num jogo de média dificuldade.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Apito sobrou no final de semana

Diante dos acontecimentos ocorridos no primeiro jogo envolvendo  Londrina e Coritiba, válido pelas semifinais do campeonato paranaense, criou-se muita expectativa em torno do comportamento da arbitragem no jogo de volta. Também, com prognóstico de trabalho árduo para a turma do apito,  a outra semifinal  disputada em Ponta Grossa, reunindo o Operário e o Foz do Iguaçu. Pra completar, o famigerado torneiro da morte, com duas partidas válidas pela primeira rodada do segundo turno, com destaque para Atlético PR x Rio Branco. Em todas essas partidas tivemos atuações muito boas da arbitragem, legitimando os resultados e passando desapercebido diante da crítica sempre impiedosa. Não acompanhamos Prudentópolis e Nacional porque nenhuma emissora de TV  teve a coragem de transmitir esse duelo. Vejamos como foi o desempenho da arbitragem.

ATLÉTICO PR. 1 X 3 RIO BRANCO  

Árbitro: Leandro Barros Nunes
Assistente 1: Jefferson Cleiton Piva da Silva
Assistente 2: Fabrício da Silva Martins

O jovem e promissor árbitro tem  mostrado que não se assusta por qualquer coisa. Apesar do pouco tempo atuando como árbitro profissional, já demonstra bastante maturidade, agindo em alguns momentos como um verdadeiro veterano dos gramados. Sua personalidade forte imprime um respeito natural dos atletas, sem a necessidade de mostrar cartões por eventuais protestos contra marcações. Inteligente, mostrou muita convicção nas tomadas de decisões,  arrefecendo os ânimos até daqueles que reclamam pelo simples hábito de reclamar. E pelas circunstâncias da partida, onde a equipe tida como pequena abriu 3 x 0 no primeiro tempo,  o jogo que se antevia como relativamente tranquilo, transformou-se de média  exigência para arbitragem, marcada pelo nervosismo que tomou conta de todos os atletas e funcionários oficiais do Atlético PR, pressionados pela sua fanática torcida. Alheio a tudo isso, o árbitro manteve-se firme, controlando a partida e não se deixando atingir pelo clima do jogo. Essa virtude é fundamental para o sucesso do árbitro, pois muitos acabam fraquejando diante da pressão incessante, mesmo sendo pessoas honestas. Cedem por serem fracos psicologicamente. Tecnicamente teve uma arbitragem impecável, com duas decisões importantes relativas a marcação de dois tiros penais. Ambos existiram. Na parte disciplinar alguns pequenos reparos. Nem todo tiro penal é passível de punição disciplinar. No tiro penal assinalado a favor do Rio Branco, o defensor do Atlético PR dá uma rasteira no adversário, imprudente, típica conduta antidesportiva, mas que não deveria redundar em advertência. Por outro lado, o cartão amarelo apresentado ao defensor do Rio Branco, que toca intencionalmente com a mão na bola dentro da área, foi aplicado corretamente. As imagens não permitem decifrar se a bola tinha direção certa para a meta. Nesse caso seria cartão vermelho por impedir um gol com a mão. Mas entendo que o amarelo ficou de bom tamanho. Também cometeu o erro que vem sendo repetido sistematicamente por alguns árbitros. No segundo tempo, por volta dos 12 minutos, o zagueiro Gustavo do Atlético é ultrapassado e segura o adversário por motivo tático, impedindo de obter a posse da bola. Lance típico de conduta antidesportiva merecedora de cartão amarelo. Nesse caso não interessa a gravidade da falta, até porque segurar o adversário está entre as três faltas passíveis de punição com tiro livre direto  que independem da maneira como foram cometidas (maneira imprudente, temerária ou com uso de força excessiva). Levou uma bolada básica por se posicionar na linha de tiro. Se for possível se desgarrar antes vá; do contrário pare pra retomar o deslocamento após o passe. Seus assistentes tiveram um desempenho a altura. Podem anotar: Jefferson Cleiton Piva da Silva. Será um dos grandes assistentes do futebol paranaense, quiça brasileiro.  Ótima arbitragem num jogo de média dificuldade.


CORITIBA 3 X 0 LONDRINA  

Árbitro: Edivaldo Elias da Silva
Assistente 1: Ivan Carlos Bohn
Assistente 2: Victor Hugo Imazu dos Santos

O veterano Edivaldo Elias da Silva, desfilando seu novo corte de cabelo estilo Vitor Belfort, apesar de um tanto combalido, mostrou  que é um dos bombeiros de plantão do quadro de árbitros da FPF. Jogo difícil? Disque 45 (DDD de Cascavel) que a solução virá. Neste jogo que se tornou um cemitério pra muitos árbitros e assistentes parananenses, o experiente apitador mostrou como se amansa um leão. Também mudou seu estilo amiguinho de jogador,  pra se impor desde os primeiros minutos, mostrando personalidade, firmeza e tolerância zero com a indisciplina. E foi assim que, mesmo diante de um jogo extremamente difícil, conseguiu manter o controle da partida advertindo todos aqueles que exageraram na dose em lances violentos, ou tentaram colocar em xeque sua autoridade.  E sem essa de apitar estilo valsa, "dois pra lá dois prá cá", ficando evidente quando mostrou cartão amarelo ao defensor do Coritiba por atingir de forma temerária o rosto do atleta do Londrina e, ato contínuo, advertindo o goleiro do Coritiba que partiu pra tirar satisfações. E já era o terceiro somente para a equipe mandante. E pouco importava os apupos da torcida pois manteve-se imudável no restante do primeiro tempo. No segundo tempo, com dois gols relâmpagos do Coritiba, a equipe do Londrina se abateu em campo e isso de certa forma acabou facilitando um pouco a condução da partida. Mas nem isso fez com que o árbitro perdesse a concentração, num eventual relaxamento natural, depois de um primeiro tempo em que foi muito exigido. Tecnicamente foi quase perfeito com dois pequenos erros em lances de tiros de canto marcados indevidamente. Ambos foram tiro de meta. Disciplinarmente teve um ou outro cartão exagerado e um ou outro que foi sonegado. Nada que desabone sua ótima arbitragem ao longo da partida. Seus assistentes tiveram uma participação muito boa, sendo o assistente 2 um pouco mais exigido. O lance mais difícil do assistente 1 foi o quase carrinho que levou, mostrando que apesar da vasta cabeleira prateada ainda continua com os reflexos bem apurados, ao contrário do árbitro que literalmente matou no peito um ataque do Coritiba. Acidente de trabalho. Ótimo trabalho da equipe de arbitragem num jogo que considero difícil. 

OPERÁRIO 2 X 0 FOZ DO IGUAÇU  

Árbitro: Rafael Traci
Assistente 1: Moisés Aparecido de Souza
Assistente 2: Marcelo Sales Correa

No fechamento da rodada, Rafael Traci ratificou sua escolha para esse jogo. Foi uma arbitragem que beirou a perfeição. Contou com a colaboração dos atletas que realizaram um jogo extremamente leal, o que resultou em poucas faltas e algumas advertências pontuais. Coloco entre as três melhores arbitragens que presenciei no atual campeonato paranaense, o que lhe confere o direito de brigar por uma vaga no sorteio das finais.  Foi muitíssimo bem tanto na parte técnica como na parte disciplinar. Fisicamente também demonstrou preparo adequado e, principalmente, está conseguindo manter a silhueta adequada para um árbitro de futebol. O único equívoco foi num lance em que o atleta do Foz do Iguaçu é agarrado pela camisa dentro da área penal, com a bola em jogo, portanto, tiro penal não marcado. Já vi camisa rasgada mas como essa do atleta do Foz jamais. Não sobrou tecido nem pra usar como pano de chão. Obviamente que esse lance isolado e único ao longo dos 90 minutos, que via de regra é de difícil percepção no campo de jogo,  não tira o brilho da grande atuação do árbitro. E foi graças a esse lance que o experiente Edson Bastos acabou sendo expulso ao dizer que enviaria a camisa ao árbitro pra guardar de recordação. Se poderia interferir ou não na sequencia do jogo ficará sempre no campo hipotético. Outro aspecto importante diz respeito aos procedimentos quando o atleta saiu do campo de jogo para trocar a camisa. Como o roupeiro demorava a vir com a nova camisa 3, tentou o atleta retornar com a camisa disponível no momento de número 13, cedida por um suplente. Ao tentar vestir ficou claro que o quarto árbitro disse ao atleta  que não poderia usá-la. Pergunto: e se não tivesse outra camisa nº 3?  Nesse caso o atleta não poderia mais participar do jogo? Obviamente que se for possível substituir com o mesmo número sempre será  a melhor solução. Porém, não havendo uma camisa substituta, pode o atleta retornar utilizando outro número sem problemas. Apenas deve o árbitro ser orientado sobre esse fato para que considere como sendo o número 3 que permanece em campo, independentemente do novo número que venha a utilizar.    Há muitos anos atrás, num jogo envolvendo Coritiba e Juventude, os uniformes principais e reservas de ambas as equipes  eram tão parecidos que o árbitro teve como única alternativa pedir a equipe do Juventude, visitante,  que atuasse utilizando um colete por cima. Isso se chama bom senso e capacidade para resolver problemas cuja solução nem sempre está no livro de regras. Pra finalizar, os assistentes também tiveram um ótimo desempenho, destaque para o belo salto de Moisés Aparecido evitando um verdadeiro strike do assistente 1. Excelente arbitragem num jogo de média dificuldade.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Domingo negro

Neste final de semana parece que os árbitros e assistentes brasileiros combinaram previamente quem faria mais lambança e consequentemente apareceria com maior destaque na mídia nacional. Foi um festival de erros, alguns deles grosseiros, que acabaram colocando os jogos decisivos em segundo plano. Só deu arbitragem nos  debates dos programas esportivos. O Paraná deu a sua contribuição para esse domingo negro. Apenas para consolo, o grande clássico inglês realizado ontem, envolvendo Manchester City e Manchester United, teve dois gols marcados em completo impedimento. E olha que estamos falando daquela que julgo a melhor arbitragem mundial, hoje praticamente profissionalizada. Mas vamos nos ater ao que se passou nas semi-finais do campeonato paranaense.

Coritiba x Londrina

Árbitro: Selmo Pedro dos Anjos Neto
Assistente 1: Luiz Henrique de Souza Renesto
Assistente 2: João Fábio Machado Brischilliari

Esse jogo Londrina versus Coritiba está se tornando o mais temido pra turma do apito. Virou quase que uma casa mal assombrada. Quem está fora morre de curiosidade com o que tem lá dentro. Já quem está dentro morre de vontade de correr pra fora. Por incrível que possa parecer, não sei se por coincidência ou incompetência, mas toda vez que essas equipes se confrontam é sinônimo de confusão envolvendo arbitragem. A novidade é que em relação ao último encontro o choro mudou de lado. Diga-se de passagem, o hábito da lamentação nos jogos entre Londrina e Coritiba tornou-se tão corriqueiro, que até quando o árbitro acerta acaba virando alvo de críticas. Isso ocorreu na partida realizada em Curitiba no turno de classificação. Naquela oportunidade o Coritiba venceu por 1 X 0, gol marcado através de tiro penal, corretamente marcado pelo árbitro. Mas no jogo de ontem, abrindo a semi-final, o excelente Selmo Pedro dos Anjos Neto teve uma tarde pra ser esquecida. Foi um primeiro tempo sofrível com muitos erros técnicos e disciplinares. Nem parecia o árbitro seguro e concentrado de outras oportunidades. Estava diferente; muito apagado no jogo, não conseguia se impor perante os atletas, realizando uma leitura equivocada dos lances, enfim, sem o efetivo controle da partida. Não vou relatar cartão por cartão pois na parte disciplinar os erros foram maiores que os acertos. Tecnicamente deixou de assinalar um tiro penal claríssimo a favor do Coritiba, com certeza seu maior pecado no jogo. Outro lance reclamado pelo Londrina que também foi falta mas não pênalti, ocorreu quando o jogador do Coritiba atinge o pé esquerdo do atleta do Londrina fora da área penal (foto). Nessa teve um restinho de sorte. Não será um jogo que mudará minha opinião a respeito do excelente árbitro. Acontece com os melhores do mundo. Vida que segue. Cabeça levantada pra se recuperar na próxima. Na derrota muitas vezes aprendemos as mais duras e importantes lições.  Seus assistentes tiveram um ótimo desempenho. Vejam na foto abaixo o detalhe do gol do Londrina, onde o  assistente 2 percorre curto espaço de terreno em altíssima velocidade, chegando praticamente junto a bola (foto). Isso significa aplicar o treinamento físico na prática. Uma fraca arbitragem num jogo que se tornou difícil pela própria atuação do árbitro.

Toque no pé esquerdo fora da área


Assistente 2 chegando em alta velocidade na bandeira de canto



Foz do Iguaçu x Operário

Árbitro: Adriano Milkcvsky
Assistente 1: Bruno Boschillia
Assistente 2: Luciano Roggenbaun

O experiente árbitro deu um pequeno susto ao mostrar um cartão amarelo equivocado nos primeiros minutos de jogo, num lance que até a própria falta é discutível. Mas felizmente gastou naquele único lance toda cota de equívocos trazida pra fronteira, pois no restante do jogo foi um show de arbitragem. Domínio completo da partida, com leitura perfeita dos lances, sem se deixar levar pela pressão da torcida que lotou o estádio do ABC, e exigia cartão amarelo a cada falta cometida pela equipe do Operário. Personalidade forte, manteve o critério ao longo dos 90 minutos o que redundou num excelente trabalho, tanto na parte técnica como na parte disciplinar. O assistente 1, Bruno Boschillia, nosso representante na FIFA, se empolgou demais no auxílio ao árbitro central, marcando duas ou três faltas inexistentes. Lances normais de carga legal que o árbitro acompanhou a decisão do assistente mais pra não perdeu o amigo. Nada que comprometesse o excelente trabalho da equipe de arbitragem, num jogo sem grandes decisões, portanto, normal.  Adriano carimbou o passaporte pra mais uma final do paranaense. 













sexta-feira, 10 de abril de 2015

Definidas as semifinais - segue o torneio da morte

Com a realização da partida envolvendo Malucelli x Foz do Iguaçu,  tivemos a definição dos quatro semifinalistas que brigam pela conquista do título de campeão paranaense de 2015. Acompanhamos os jogos Coritiba x Cascavel e Operário x Paraná. Também, Nacional x Atlético valendo pelo torneio da morte que indicará as duas equipes rebaixadas para segunda divisão. Diria que até aqui ninguém pode colocar na conta da arbitragem eventual desclassificação. Com uma outra exceção, a grande maioria dos jogos da competição foram bem conduzidos dentro do padrão brasileiro de arbitragem. Vejamos como foi o desempenho da turma do apito.

Coritiba x Cascavel 

Árbitro: Leonardo Sigari Zanon
Assistente 1: Ivan Carlos Bohn
Assistente 2: Felipe Gustavo Schmidt

O jovem e promissor árbitro pegou a grande moleza da rodada. Desde os primeiros minutos do jogo ficou claro que o Cascavel não tinha maiores pretensões neste jogo, atuando apenas para cumprir o compromisso, restando claro  que a derrota em casa por 3 x 1, no jogo de ida, derrubou o ânimo da serpente. E com o tiro penal marcado e convertido nos primeiros minutos de jogo, ficou ainda mais fácil a condução da partida. Diga-se de passagem, o tiro penal foi muito bem marcado, como também a punição disciplinar com advertência. O árbitro seguiu o jogo todo decidindo de forma correta. Não tenho dúvidas da capacidade de Leonardo Zanon. Só deixará de ter sucesso na arbitragem se descuidar da parte física. Só mais um conselho. Preencher a súmula com calma, sem rasuras e de preferência com uma letra que permita uma leitura sem esforço hercúleo pra tentar entender o texto. Agindo dessa forma, não correrá o risco de ser chamado ao Tribunal pra traduzir aquilo que escreveu. Hieróglifos são para os egípcios. Saudades do caderno de caligrafia.  Os assistentes tiveram um bom desempenho, apesar da pouca exigência. Entendo que o assistente 2 errou na marcação de uma infração de impedimento no segundo tempo do jogo quando o atleta do Coritiba ficaria cara a cara com o goleiro. Na imagem congelada o defensor dava condições.  Nada que altere o preço do dólar, muito menos o destino dessa partida.  Apesar da extrema facilidade, tivemos um ótimo trabalho da equipe de arbitragem.  

Operário x Paraná Clube 

Árbitro: Felipe Gomes da Silva
Assistente 1: Victor Hugo Imazu dos Santos
Assistente 2: Julio Cesar de Souza

Dos jogos que assisti foi certamente o de maior dificuldade para a arbitragem. Os jogos do Operário, seja fora dos seus domínios ou no Germano Kruguer em Ponta Grossa, estão sendo marcados pela qualidade do espetáculo, mas também por alguns excessos nas disputas entre os atletas. Talvez o técnico do Operário, da escola gaúcha, trabalhe muito os jogadores para essa disputa intensa por espaço e pela bola. Até aí perfeito. Mas o que tenho percebido é que em alguns momentos estão passando da conta. Neste jogo especificamente, o que teve de tentativa de agressão entre os atletas foi uma grandeza. Toda bola alçada na área o que mais se via era agarra agarra, tentativa de se soltar e mãos e braços buscando atingir o adversário violentamente. Acho inclusive que o árbitro deveria ter mandado para o chuveiro um de cada lado já nas primeiras investidas. Era pura conduta violenta. E nessa caso a tentativa é suficiente. Porém, a medida que o jogo foi transcorrendo e principalmente pela larga vantagem do time da casa, os ânimos foram arrefecendo e a condução da partida tornou-se mais tranquila. As advertências aplicadas foram corretas. Na parte técnica o árbitro teve um desempenho muito bom. Os assistentes tiveram uma ótima participação. Jogo difícil com bom trabalho da arbitragem.

Nacional x Atlético PR

Árbitro: Paulo Roberto Alves Junior
Assistente 1: Arestides Pereira da Silva Junior
Assistente 2: Leandro Luiz Zeni


Como a televisão segue os considerados grandes clubes, priorizando a audiência e não o espetáculo, ninguém pode acompanhar pela TV Malucelli e Foz do Iguaçu, que brigavam por uma vaga na semifinal do campeonato parananense. No mesmo horário Nacional e Atlético Parananense travavam batalha em Rolândia para ver quem se mantém na elite do futebol parananense. Assistimos a esse jogo até o final mais em respeito a turma do apito, pois do contrário teria colocado o controle remoto pra funcionar antes dos 15 minutos do primeiro tempo. Jogo tecnicamente sofrível, num gramado ruim e de pequenas dimensões, com iluminação precária (e olha que a TV compensa em parte). Normalmente quando o jogo é muito fraco, a tendência é de colocarem todos na vala comum. Mas nesse caso a arbitragem foi o que se salvou nesse circo dos horrores. Se excluirmos um tiro de meta mal marcado com 1 minuto de jogo (lance do assistente 1 pelo campo visual) e um tiro de meta mal marcado nos últimos minutos de jogo (lance do árbitro), no mais a arbitragem passou sem erros na parte técnica. Na parte disciplinar, um único cartão amarelo em lance de falta tática, onde o atacante é seguro pelo defensor para impedir de obter a posse de bola.  Conduta antidesportiva clássica. E ficou nisso sem a necessidade de outras sanções disciplinares.O árbitro mostrou que está vivendo um ótimo momento, atuando de forma segura e mantendo o controle do jogo sem grandes contestações por parte dos atletas. Os assistentes tiveram um desempenho muito bom. Ótimo trabalho da equipe de arbitragem num jogo relativamente fácil.


De arremate

Ouvi muito disque me disque sobre gol mal anulado no jogo Maringá x Londrina, exagero em expulsão, etc. Não posso comentar aquilo que não vi. Também não se pode julgar uma arbitragem sem assisti-la na integra pelo contexto do jogo, clima da partida, etc. Porém, após o encerramento da transmissão de Operário e Paraná Clube, acompanhamos ao vivo a disputa de tiros da marca penal para determinação do vencedor. Aí não posso deixar de observar o desconhecimento das regras do jogo e orientações. No círculo central, onde deveria estar apenas o assistente, encontrava-se também o quarto árbitro (deveria continuar a cuidar das áreas técnicas) e o representante da Federação Parananense de Futebol, com sua exuberante bolsa tira colo batendo altos papos com a rapaziada do apito. Na várzea não tem problema algum. Mas em se tratando de futebol profissional é inadmissível. E como ninguém fez nada da equipe de arbitragem, presumo que todos desconhecem a regra neste tópico específico. Como a possibilidade de disputa de tiros penais era previsível, uma leitura no livro pra relembrar não faria mal a ninguém. Como consolo, no dia seguinte a cena se repete no jogo Grêmio x Novo Hamburgo. Apenas o representante da federação gaúcha preferiu assistir a cobrança dos tiros penais do seu local de trabalho.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Quartas de final - ida

O campeonato paranaense 2015 começa a afunilar e logicamente os jogos vão se tornando cada vez mais importantes e consequentemente mais disputados. Dos quatro jogos disputados neste final de semana, válidos pelas quartas de final, acompanhamos duas partidas. No sábado o duelo entre Paraná e Operário e no domingo a partida entre Cascavel e Coritiba. Nos dois jogos o resultado foi legitimado pela arbitragem. Não obstante, algumas observações se fazem necessárias. Vejamos.

Operário x Paraná

Árbitro:  Selmo Pedro dos Anjos Neto
Assistente 1: Bruno Boschillia
Assistente 2: Weber Felipe da Silva 

Qualquer pessoa desavisada que chegasse no estádio Couto Pereira sem conhecimento a respeito da partida que estava sendo realizada, e de qual competição se tratava, imaginaria que estivesse assistindo a um jogo de nível internacional, similar aos que acompanhamos nos principais campeonatos europeus. Digo isso sem pestanejar pela qualidade do espetáculo no primeiro tempo, num jogo em que a bola não parava,  disputado com  muita intensidade mas  com extrema lealdade entre os atletas. Este é o futebol que certamente trará o torcedor de volta aos estádios. E se por um lado os atletas de ambas as equipes merecem os cumprimentos pela qualidade do jogo apresentada, obviamente que o condutor do espetáculo, o árbitro, não pode passar desapercebido, pois sua forma de conduzir a partida foi determinante para a qualidade do jogo. A dinâmica empregada pelo árbitro, permitindo que o jogo se desenvolvesse com pouquíssimas interrupções, fazendo uma leitura correta e adequada dos lances, foi preponderante para que o jogo fosse tão prazeroso ao expectador. Todavia, não basta querer. É fundamental que o árbitro esteja muitíssimo bem preparado fisicamente e disposto a arbitrar modernamente, saindo da zona de conforto para correr maiores riscos. Em suma, parar de se esconder atrás do apito. No primeiro tempo possivelmente não tivemos 10 faltas. E pouca coisa ficou no passivo  do árbitro. No segundo tempo o jogo foi um pouco mais truncado mas mesmo assim tivemos um bom espetáculo. Apesar do bom desempenho do árbitro, alguns pontos precisam ser melhorados. Tivemos um tiro livre a favor do Paraná Clube em que o atleta Lúcio Flávio cobra rapidamente lançando a bola contra seu oponente,  retomando a posse de bola para seguir a jogada. O árbitro paralisou mandando repetir a cobrança.  Equívoco. Ficou claro que se tratava de cobrança tática e totalmente permitida pela regra. Diferente seria se o atleta chutasse a bola no adversário de forma agressiva. Nesse caso ambos deveriam ser advertidos. Quem chutou por atingir o adversário de forma temerária, e este por não guardar a distância regulamentar. Precisa também usar o deslocamento lateral e de costas quando as circunstâncias exigirem. Correr olhando pra trás dificulta o foco no lance. Na parte disciplinar discuto apenas a expulsão do atleta do Paraná.  Não pela linguagem ofensiva que redundou no cartão vermelho, mas pelo cartão amarelo que antecedeu a esse lance. O goleiro do Operário estava caído e segundo relatou o árbitro, o atleta do Paraná se aproximou dizendo  "não foi nada,  você está de brincadeira. " Não posso concordar com uma advertência nessas circunstâncias.  Isso não é ofensa alguma e faz parte do contexto do jogo de futebol. Exagerou o árbitro. Era uma situação totalmente administrável e talvez evitasse a expulsão no lance subsequente. Nada que justifique o destempero do atleta expulso. Os assistentes tiveram uma boa atuação.  O assistente 1 foi menos exigido e acertou na indicação de impedimento no lance em que o atacante do Operário concluiu a gol.  O assistente 2 teve dois lances bastante ajustados em que sinalizou infração de impedimento.  Confesso que em ambos tive a impressão de mesma linha.  Mas a imagem da televisão não é adequada para uma conclusão,  o que nos leva a ratificar a decisão do assistente. No geral uma boa arbitragem num jogo de média dificuldade.

Cascavel x Coritiba

Árbitro:  Nilo Neves dos Santos Junior
Assistente 1: Moisés Aparecido de Souza
Assistente 2: Antonio Marcos de Andrade 

O experiente árbitro não reprisou as apresentações anteriores.  O critério de marcação de faltas não espelhou a realidade dos fatos,  ora permitindo a sequência dos lances em faltas claras, ora sancionando faltas inexistentes. Tivemos toque de mão claro não marcado,  enfim, deixou a desejar nesse quesito. Passou a impressão de que atuava preocupado em finalizar o jogo com baixo número de faltas sancionadas. Esse é um enorme equívoco que muitos árbitros continuam cometendo. Entram no campo com ideias pré concebidas,  como se todas as partidas fossem iguais. Em compensação foi muito bem na marcação do tiro penal a favor do Cascavel, em lance claro de toque de mão voluntário, lance muito mais relevante que os demais. Na parte disciplinar também sonegou cartões amarelos,  em algumas situações até com faltas duras e desleais. Também não vejo com bons olhos os efusivos abraços em técnico e atletas. Parecia político em campanha. O tratamento educado com urbanidade é imprescindível. Excesso de intimidade com abraço em técnico acho desaconselhável, principalmente no Brasil onde tudo é visto com desconfiança. Muitos árbitros agem dessa forma imaginando que  seus erros serão mais tolerados. Ledo engano. Vai continuar sendo alvo daqueles que sempre transferem suas responsabilidades e fracassos a arbitragem. Seus assistentes tiveram um ótimo desempenho, com destaque ao lance de ataque do Cascavel, finalizado em gol mas anulado por infração de impedimento em lance extremamente ajustado. Acertou o experiente Moisés Aparecido de Souza,  com seus cabelos esmaltados de prata, que tal qual o vinho, quanto mais velho fica melhor se apresenta. Foi uma arbitragem satisfatória num jogo de baixa dificuldade. 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Jogo perigoso passivo


Como é de amplo conhecimento, para que seja sancionada uma falta, é necessário que seja cometida por um jogador, que ocorra dentro do campo de jogo e com a bola em jogo. Pela natureza da infração ela poderá ser sancionada com tiro livre direto ou indireto. A regra 12 elenca 10 (dez) tipos de infrações puníveis com tiro livre direto, sendo as 7 (sete) primeiras sancionadas desde que cometidas de forma imprudente, temerária ou com uso de força excessiva. Lembrar que em alguns casos a marcação da falta ocorre pela simples tentativa, como no caso do pontapé, rasteira/calço e o golpe no adversário. As 3 (três) restantes independem de tais circunstâncias. Não existe cusparada temerária, segurar imprudentemente ou tocar a mão na bola de forma excessiva. 

Todavia, existem outras infrações previstas na regra 12 que demandam o reinício do jogo através de um tiro livre indireto. Algumas delas são aplicáveis exclusivamente aos goleiros; outras podem ser atribuídas a quaisquer jogadores indistintamente. Dentre as faltas puníveis com tiro livre indireto, temos o que se denomina jogar de maneira perigosa, ou como de praxe, jogo perigoso. Diz a regra que jogar de maneira perigosa consiste na ação de um jogador que, ao tentar disputar a bola, coloca em risco alguém, inclusive a si próprio. Essa ação é cometida com um adversário próximo, ainda que este não dispute a bola por medo de se lesionar. mesmo disputar a bola. E prossegue o texto legal dizendo que são permitidas jogadas de bicicleta ou tesouras, desde que, na opinião do árbitro, não constituam nenhum perigo para o adversário. Finaliza dizendo que jogar de maneira perigosa não envolve contato físico entre os jogadores. Se houver contato físico, ação passa a ser uma infração punível com um   livre direto ou penal. 

Analisando o texto da regra, fica claro que existem algumas possibilidades do árbitro sancionar um tiro livre direto ou penal, mesmo diante da ausência de contato físico. São aquelas faltas puníveis com a simples tentativa. Nem vou adentar na questão envolvendo lançamento de objetos ou cusparada.  Mas o que muitos árbitros desconhecem pela falta de uma leitura mais atenta, é que existe a possibilidade de sancionar o jogo perigoso passivo, ou seja, quando o próprio atleta se coloca em situação de risco mesmo não havendo contato físico. Exemplificando, seria aquela bola em altura para ser chutada com o pé e o atleta busca atingir a bola baixando a cabeça. Nesse caso o árbitro deverá marcar tiro livre indireto contra a equipe do atleta que colocou sua própria integridade física em risco. Os árbitros devem cuidar também para não invalidar gols de tesoura ou bicicleta sob o pretexto de jogo perigoso, quando o defensor percebe que não há tempo para disputar a bola mas, tentando ao menos uma aproximação do adversário par caracterizar o jogo perigoso. 

O vídeo abaixo é um excelente exemplo de jogo perigoso passivo em que o atleta atua colocando sua própria integridade física em risco, ao se atirar de cabeça na tentativa de evitar o gol.