segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Pré temporada 2015

O ano se inicia e as federações estaduais começam os preparativos do seu quadro de arbitragem para 2015.  É a famosa pré temporada que atualmente se realiza em praticamente todas as federações estaduais. A pré temporada dos árbitros, salvo uma ou outra federação mais abonada que se dispõe a investir  na arbitragem, se resume há 3 ou 4 dias de trabalhos teóricos e práticos. Muitas vezes, pela falta de criatividade, acabam enchendo linguiça, agregando palestras totalmente dispensáveis naquele momento, apenas para completar a esburacada grade e se livrar do encargo,  cujo foco deveria ser eminentemente técnico.

Aliás, o mundo está repleto de excelentes profissionais da arbitragem  que adorariam visitar o Brasil e repassar todo conhecimento adquirido ao longo dos anos, sem quaisquer ônus, excetuando-se as despesas corriqueiras de deslocamento e hospedagem. É claro que temos profissionais gabaritados em nosso território, mas acho importante esse intercâmbio, conhecendo um pouco daquilo que é realizado nos centros mais desenvolvidos, em especial na Europa. E o trabalho não pode se resumir a essa meia semana, entregando os árbitros a própria sorte pelo restante do ano. Por essa razão acho que a pré temporada, no formato atual, apesar da inegável utilidade, acaba concentrando e consumindo os parcos recursos num curto espaço de tempo, quando poderiam ser fracionados e utilizados ao longo do ano de forma mais eficaz. 

Ademais, sinto que precisamos instigar  os profissionais da arbitragem a pensar um pouco mais, melhorar a capacidade de interpretação do texto legal,  ao invés de entregar tudo devidamente mastigado, embalando o sono dos árbitros com sequencias e mais sequencias de slides e vídeos na penumbra de uma sala confortável. 

É notório que a arbitragem brasileira passou por dois momentos distintos. Sob minha ótica, o Refereeing Assistence Programme - RAP, traduzindo, programa de assistência aos árbitros, instituído pela FIFA, foi um divisor de águas entre um passado  totalmente órfão de informações, em que cada árbitro se virava como podia,  e um presente caracterizado por um tsunami  de orientações, diretrizes, interpretações, etc, muitas vezes mais confundindo que esclarecendo, como ocorrido no ano de 2014, na interpretação de mão na bola e bola na mão, mão deliberada e ação deliberada, a ponto da CBF através de sua comissão de arbitragem, convocar a todos os interessados, inclusive atletas, para reapreciar o tema e espancar quaisquer dúvidas.     

Dentre as ferramentas criadas pela FIFA, uma das mais importantes foi o aprendizado das regras do jogo e suas interpretações através de um sistema de perguntas e respostas, a famosa trívia, que certamente elevou muito o nível de conhecimento das regras do jogo pelos árbitros brasileiros. É a forma que encontraram para suprir a preguiça mental de muitos que insistem em não abrir o livro de regras. 

A propósito, as comissões de arbitragem estaduais deveriam entregar o livro de regras aos árbitros pessoalmente, anotando o nome na contracapa, bastando, no ano seguinte, quando da entrega do novo exemplar atualizado, manusear rapidamente o livro antigo para verificar se foi  frequentemente consultado ou se mantém a aparência intocável. Para aquele espertalhão que justificar a leitura por meios virtuais, ótimo, a natureza agradece, economizamos mais uma árvore e não precisará  mais receber a versão impressa, o que nos dias de hoje já não faz mais sentido.  

Voltando a trívia, entendo que é um excelente instrumento mas criou a figura do "árbitro decoreba", aquele que acerta tudo e não precisa nem ler integralmente a resposta pois já o faz  no automático. Traçando um paralelo, é o mal necessário dos cursinhos preparatórios. Como o espaço de tempo é curto decoramos tudo, seja através de associações, músicas, etc. Mas essa metodologia é abandonada no curso superior por razões óbvias.   No caso dos árbitros, as vezes sequer entendem  o significado de algumas frases e expressões como imprudente, temerária, erro de fato, erro de direito, conduta antidesportiva, jogo brusco grave, etc. Em suma, está na hora de pararmos com a marcação do "X", ou colocar algo mais acompanhando o "X".

No que tange ao aspecto físico, mesmo não sendo da área vou me atrever a lançar algumas considerações. Primeiro, não existe um acompanhamento individual no período decorrente entre um teste físico e outro, que gira em torno de 6 (seis) meses. E o resultado é que vemos árbitros que se preparam para o teste físico e logo em seguida acabam relaxando, mostrando na tela do televisor uma silhueta que não combina com a função. Já passou da hora de se fazer ao menos um acompanhamento do peso dos árbitros e assistentes a cada jogo, anotando em planilha, tarefa que pode ser facilmente cumprida pelo assessor/delegado do jogo, pois mesmo não tendo formação acadêmica na área de educação física, com certeza pessoalmente saberá diferenciar músculo de gordura. 

Finalmente, devem os árbitros usar todo o potencial físico nos jogos. Ali não é hora de economizar. Correr de frente, de costas, lateralmente e, sempre que o jogo exigir, mostrar na prática que aquelas marcas obtidas nos tiros de 40 e 150 metros não são apenas belos registros numa planilha. De nada adiante alardear que conquistou os melhores tempos se durante a partida economiza. Não faz sentido. E no caso dos tiros curtos, nossos assistentes que são verdadeiras lebres nos testes oficiais  não podem se transformar em jabutis nos jogos. Esse sprint pode ser decisivo no alcance da linha do penúltimo defensor em lance de velocidade, ou para verificação da ultrapassagem ou não da bola pela linha de meta, principalmente a partir desse ano em que a figura do árbitro assistente adicional foi abolida nos jogos sob a égide da CBF.   



Nenhum comentário:

Postar um comentário