sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA COM LEONARDO GACIBA



Dando sequência ao nosso ciclo de entrevistas com árbitros que marcaram história no futebol brasileiro, hoje vamos bater um papo com Leonardo Gaciba, árbitro gaúcho que pertenceu aos quadros da FIFA, eleito por quatro vezes o melhor árbitro do futebol brasileiro e que atualmente é comentarista de arbitragem da Rede Globo de Televisão.

Gaciba, fale um pouco sobre sua carreira e o que motivou a ser árbitro de futebol.

Meu começo como árbitro foi no Handebol, esporte que praticava na época. Como participava de uma equipe de arbitragem comecei a apitar diversas modalidades. Até que veio um convite para atuar na Associação Colonial de Pelotas, um campeonato amador muito forte na minha terra natal, Pelotas. Terminei o ano escalado na final e comecei acreditar que levava jeito para coisa. Tinha 18 anos e 2 anos depois já apitava a segunda divisão profissional Gaúcha. Em 1994 estreio no Gaúcho e em 1994 entro na CBF. Depois de 10 temporadas sou promovido ao quadro da FIFA onde permaneci por 4 anos. Em Novembro de 2010 deixo os campos depois de 22 anos dedicados ao apito.

Cite os momentos mais marcantes em sua carreira; o jogo inesquecível, aquele que você considera o mais difícil, etc.

Acredito que todos os jogos são importantes em momentos específicos da carreira de um árbitro. O primeiro profissional, o primeiro jogo na primeira divisão, a estreia no Brasileirão, libertadores, eliminatórias etc tudo alisei tempo teve grande importância! Finais marcam muito mas creio que os jogos mais difíceis sempre são os clássicos de seu estado de origem; no meu caso, os Grenais!

Gaciba, não posso deixar de perguntar. Você protagonizou um lance inusitado em nosso Estado no jogo Coritiba x Santos, marcando tiro livre indireto e advertindo o atleta Jabá do Coritiba no momento em que ele parou na frente do adversário e começou a passar o pé sobre a bola. Qual foi sua interpretação do lance? Se fosse hoje faria diferente?

Essa cena marcou muito o início de minha carreira no Brasil. Tem gente que até hoje fala que expulsei ou dei cartão para o Jabá, o que não é verdade. A verdade é que apitei o indireto para proteger o jogador. Naquele ano (2000) o Santos tinha uma grande equipe e saiu vencendo o Coritiba por 2x0 no Couto Pereira. Jabá entra e muda o jogo colaborando muito para uma virada sensacional para 4x2. Já no final do jogo sobre gritos de olé, Jabá pega a bola na lateral e começa a passar o pé por cima da bola como que chamando a marcação. Jogador de futebol não tolera essa atitude de desrespeito ao adversário. Um zagueiro do Santos estava ao meu lado e disse que iria quebrar a perna do Jabá. Quando ele começa a correr apito para evitar uma confusão. No campo, deu certo. Todos entenderam meu intuito é o jogo acabou sem conflito. Infelizmente a imprensa não entendeu igual aos atletas e divulgou que Garrincha não jogaria comigo apitando. Fazer o que? Será que seria mais legal deixar ele tomar o pontapé? Talvez hoje marcaria um indireto contra o defensor! Realmente não sei foi muito inusitado...

Em sua opinião, em que estágio está a arbitragem brasileira?

Creio que a arbitragem Brasileira está no mesmo estágio de nossa seleção. É jovem e em evolução. A renovação está muito rápida e isso dificulta a formação de novos talentos.

Você vê o surgimento de novos árbitros?

Conforme disse na resposta anterior, sim, mas creio que o tempo de maturação está sendo acelerado e isso cobra um preço alto!

Que dicas você deixa para a nova geração da arbitragem brasileira?

Sejam vocês mesmo! Por mais que a arbitragem requeira disciplina, árbitro robô tem carreira curta. Personalidade é fundamental!

Qual a sua opinião a respeito da profissionalização da arbitragem?

Sou a favor mas quem será o pau da criança? Quanto tempo será o contrato? Como investir em uma carreira que tem um mercado único com a incerteza de um amanhã? E aos 45 anos? O que farão os profissionais?

Qual a sua opinião sobre o fim dos árbitros assistentes adicionais?

Aqui não colou! Pouca gente está sentindo falta. Creio que a ideia é boa mas se eu fosse o legislador daria uma bandeira para eles mostrarem o que marcam. Do jeito que está parece que estão ali somente olhando o jogo.

Fale sobre seu novo trabalho: comentarista de arbitragem da Rede Globo de Televisão.

Gosto muito do que faço. É muito gratificante seguir trabalhando com a minha paixão; a arbitragem. Hoje sou pedra, não mais vidraça! Mudei de lado mas, não de convicções! Procuro analisar os profissionais em suas atuações sem ser depreciativo. Não falo dos homens, falo dos árbitros e, sempre que possível procuro colocar o grau de dificuldade da decisão, afinal, só que já pisou no verde sabe o quão difícil é dirigir a maior paixão do Brasileiro.

















quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Árbitro assistente adicional - AAA - ruim com ele, pior sem

A Confederação Brasileira de Futebol - CBF, optou por não mais utilizar o árbitro assistente adicional (AAA) nas competições nacionais (série A e fases decisivas da Copa do Brasil). Seguiram no mesmo caminho as federações estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Desconheço outras federações que utilizavam mas possivelmente existam.  Não tenho a menor dúvida de afirmar que a decisão é eminentemente financeira, como de costume acontece quando se trata de dinheiro aplicado na arbitragem, reconhecido equivocadamente como despesa e não como investimento.

Um dos aspectos que certamente contribuiu para o encerramento da  participação dos AAAs foram alguns erros grosseiros cometidos. Um deles, bastante difundido na imprensa,  acarretou na conquista do título carioca em 2014. Tenho comigo que a experiencia foi mal conduzida e os erros pontuais acabaram minando mais essa ferramenta útil para arbitragem brasileira.

Para o sucesso da função de AAA, é necessário um treinamento continuado   até atingir um nível similar ao que acompanhamos nas competições europeias. Ademais, cometeram o equívoco de colocarem árbitros que, apesar de ocuparem classificação de destaque no ranking nacional, estavam visivelmente deslocados no exercício da função. O exemplo emblemático é do  árbitro FIFA Ricardo Marques Ribeiro, que não conseguiu visualizar o gol marcado pela equipe do Goiás no campeonato brasileiro de 2014.

E nem poderia na posição em que se encontrava no momento em que a bola cruza a linha fatal. Na verdade, muito embora faça parte da elite brasileira do apito, o que pressupõe alta qualificação, acabou errando em razão de não estar ambientado com a nova função, cometendo erros primários de deslocamento e posicionamento. Não tem culpa. Não estava acostumado ao exercício da função. Fez lembrar outros tempos em que os árbitros sulamericanos trabalhavam como árbitro num jogo e no dia seguinte atuavam como assistente, muitas vezes em país vizinho. Era totalmente desarrazoado. Um desastre total. 

Por outro lado, aqueles que atuavam como árbitro assistente adicional com certa frequência, conseguiam resultados muito satisfatórios no trabalho em equipe.  Mas talvez aí resida o grande e talvez decisivo fator que fulminou o AAA. Não existe percepção visual ou auditiva do  trabalho. Tudo que realiza fica restrito internamente nas comunicações entre a equipe de arbitragem durante o jogo.

Apesar de inexistir qualquer estatística a respeito, não tenho dúvidas de afirmar que inúmeras decisões importantes foram tomadas com as informações prestadas pelos AAAs, mas que infelizmente acabavam não chegando ao conhecimento da mídia, quiçá da Comissão de Arbitragem.

Apesar de ser letra morta daqui pra frente, vejamos os deveres que ainda constam na regras do futebol, edição nacional 2014/15 (páginas 120/122):

Os árbitros assistentes adicionais, sempre submetidos á decisão do árbitro principal, devem indicar:

1. se a bola saiu completamente do campo e pela linha de meta;
2. se houve um tiro de canto ou um tiro de meta;
3. as infrações e outros incidentes ocorridos fora do campo visual do árbitro;
4. as infrações que possam ver melhor do que o árbitro, sobretudo as que ocorram dentro da área penal. 
5. se, nas cobranças de pênaltis, o goleiro se adianta antes da bola ser chutada e se a bola ultrapassou a linha de meta.

E o principal:  

Os árbitros assistentes adicionais ajudarão o árbitro a dirigir a partida de acordo com as regras do jogo, porém sempre cabendo ao árbitro tomar a decisão definitiva.

O motivo da preocupação em relação ao futuro, é que sequer completamos um mês de competições estaduais e já podemos perceber que a ausência do árbitro assistente adicional permitiu que muitos lances irregulares acontecessem sem a percepção da equipe de arbitragem, em situações de jogo que haveria enorme possibilidade de intervenção satisfatória do AAA.

Faço uma pequena relação de lances cujas decisões foram equivocadas e que cada um tire suas conclusões:  

1. Os dois tiros penais marcados a favor do Corinthians x Botafogo de Ribeirão Preto.
2. A bola que não entrou no jogo do Internacional x Caxias e que decidiu o jogo;
3. O toque com a mão do zagueiro do Nova Iguaçu contra o Botafogo (o atacante estava impedido);
4. A bola que não entrou no jogo do Flamengo x Madureira;
5. A bola que entrou no jogo Nacional x Coritiba;
6. O tiro penal inexistente no jogo Santos x Portuguesa;
7. O tiro penal marcado equivocadamente no jogo Cruzeiro RS x Internacional (bola bate no peito)

Essa é uma pequena amostra de lances que  aconteceram nos últimos dias e puxamos pela memória, mas certamente o número é infinitamente maior. Muitos poderão dizer que mesmo com a intervenção do AAA muitas dessas decisões permaneceriam. Concordo. Mas também não podemos descartar a possibilidade infinitamente maior de correção desses equívocos caso existisse o AAA.

Sem o sistema de detectação automática de gols (DAG), acredito que a solução humana ainda é factível e torço para que a posição inicial seja revista com o retorno dos AAAs.  Até lá teremos problemas ainda maiores que nos anos anteriores. Podem conferir e depois me cobrem.  A solução definitiva passa pelo auxílio tecnológico com paralisações pontuais  em lances decisivos e consulta ao vídeo por pessoa previamente designada pela Comissão de Arbitragem, o que poderíamos chamar de árbitro assistente virtual. É o futuro cada vez mais presente.

Nota

No blog de sexta feira (27/02/15), publicaremos entrevista com o ex-árbitro FIFA Leonardo Gaciba, atualmente comentarista de arbitragem da Rede Globo de Televisão.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Rodada de ATLETIBA

No final de semana tivemos a realização da 5ª rodada do campeonato paranaense, com destaque para o clássico Coritiba x Atlético. Todos sabem que o ATLETIBA é um divisor de águas na carreira de qualquer árbitro de nosso estado. Passar por esse teste implica no batismo final da carreira a nível estadual, passando o árbitro a compor um seleto grupo de profissionais habilitados a dirigir quaisquer jogos estaduais. E nesse caso específico a escala reflete mérito pessoal, e não por influência de fatores externos como vivenciado no Paraná num passado negro que merece ser esquecido. Vejamos como foi a rodada.

MARINGÁ X PARANÁ CLUBE

Árbitro:  Fábio Marcos Zocante
Assistente 1: Daniel Cotrim de Carvalho
Assistente 2: Marcelo Pavan

Debaixo de um sol escaldante, o jovem árbitro comandou um jogo com prenúncio de dificuldades pela situação das equipes na classificação da competição. Foi uma partida repleta de grandes decisões, aumentando em muito o grau de dificuldade. No primeiro tempo seu desempenho foi praticamente perfeito com pequenos erros totalmente desprezíveis. Já no segundo tempo, parece que começou a faltar gás, principalmente na segunda metade da etapa final, apresentando enorme dificuldade de aproximação nas jogadas de velocidade.  E a falta de melhor condicionamento físico acabou interferindo no desempenho do árbitro que mudou completamente sua leitura dos lances, passando a sancionar faltas inexistentes, situação típica de quem está exaurido fisicamente. Pior que sequer tivemos a parada para hidratação em ambos os tempos. Disciplinarmente, entendo que o atleta do Maringá foi bem expulso por dupla advertência, porém faltou um cartão vermelho para o atleta Barcos do Maringá aos 46 minutos da etapa final numa entrada violenta que visou apenas atingir seu adversário. No geral, as advertências foram bem aplicadas, exagerando em um outro cartão, assim como deixando de usá-lo em uma ou duas oportunidades. Tecnicamente se houve bem até a metade do segundo tempo, quando mudou sua postura completamente conforme dito anteriormente. De todos os supostos tiros penais reclamados, somente no lance ocorrido aos 25 minutos do segundo tempo, favorável ao Paraná Clube, restou claro que houve a infração cometida pelo defensor do Maringá ao atingir o atleta adversário com uma rasteira.  Nas demais situações de supostos tiros penais reclamados,  ratifico as interpretações do árbitro. Imagem de TV precisa ser filtrada. Em câmera lenta todo toque de mão parece intencional, assim como qualquer braço nas costas parece carga faltosa. O assistente 1 teve um ótimo desempenho, acertando em praticamente todas as marcações relativas a regra 11, com exceção da indicação ocorrida aos 10 minutos do primeiro tempo. Foi muito bem aos 38 minutos do segundo tempo,  ao indicar que a infração foi cometida fora da área penal em lance de extrema dificuldade. Belo trabalho em equipe nesse lance. O assistente 2 foi menos exigido, mas acertou  nas suas marcações. O assistente 2 cometeu um equívoco que já vimos nesse campeonato e parece que existe um desconhecimento total da regra do jogo. Após uma dividida, o atleta do Maringá caiu fora do campo de jogo próximo a linha de meta, permanecendo a bola em jogo. Equivocadamente, o assistente se deslocou normalmente buscando a linha do penúltimo defensor, desconsiderando esse atleta caído, quando o correto seria considerá-lo como participante ativo do jogo,  posicionado sobre a linha de meta, até a próxima paralisação do jogo. No geral foi uma arbitragem satisfatória num jogo de média dificuldade. 
   
CORITIBA X ATLÉTICO

Árbitro:  Rafael Traci
Assistente 1: Adair Carlos Mondini
Assistente 2: Jeferson Cleiton Silva da Piva

Se o ATLETIBA é o batismo de qualquer árbitro no Paraná, Rafael Traci mostrou que definitivamente está pronto para alçar voos ainda maiores. É um árbitro preparado para atuar em quaisquer jogos a nível nacional, dentro de um crescimento acompanhado  e orientado a que todo árbitro deve submeter-se, além da famosa experiência que somente será adquirida ao longo dos anos. Teve uma atuação de gala, titubeando um pouquinho no início do jogo ao permitir algumas entradas mais duras, sem interferir, mas retomou imediatamente o controle da partida e  conduziu com tranquilidade até o final. Os assistentes foram bastante exigidos em relação a regra 11, com diversos lances de difícil interpretação. O assistente 2,  que foi galgado ao quadro nacional esse ano, teve um desempenho muito bom, errando em apenas uma marcação de impedimento. Já o assistente 2, mais experiente, acertou em quase todas as marcações, mas infelizmente não conseguiu visualizar o impedimento ocorrido no segundo gol do Coritiba. Lance de alto grau de dificuldade pois é necessária uma excelente visão periférica para determinar o exato momento em que a bola é tocada na cobrança do tiro livre livre, e a posição dos atletas do Coritiba. Tanto Lucas Claro como Leandro Almeida estavam em posição de impedimento no momento do cruzamento. Houve participação ativa de ambos, seja inferindo no jogo (Leandro Almeida cabeceia a bola), seja interferindo no adversário (Lucas Claro também disputa a bola com o zagueiro).  Confiram na sequência de fotos abaixo.  Ótima arbitragem em jogo de baixa dificuldade.

Foto 1 - Imagem central



Foto 2 - Imagem lateral



Nota


A Comissão de arbitragem escalou um árbitro assistente reserva (Maurício José Braga). Durante todo jogo permaneceu controlando e agindo como quarto árbitro junto a área técnica do Coritiba. Um árbitro assistente reserva quando designado, terá o único dever de substituir um árbitro assistente que não tenha condições de continuar no jogo ou substituir o quarto árbitro se for o caso. Não sou eu que digo. Está expressamente determinado nas regras do jogo. Fez o que lhe foi pedido. Não tem culpa. Foi mal orientado.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Entendendo o jogo - o futuro chegou

O artigo que transcrevemos  abaixo foi extraído do site da UEFA, após o último encontro da arbitragem européia realizado em Atenas na Grécia. Representa a visão moderna da preparação dos árbitros de futebol. A  ideia é que o futebol evoluiu de tal forma que não existe mais espaço para o árbitro desinformado, aquele que se limita a treinar fisicamente, atualiza-se nas questões de ordem técnica e segue  para o estádio desconhecendo aspectos táticos das equipes envolvidas na partida.  O texto original está em espanhol e traduzimos para o português com as adaptações necessárias para melhor entendimento.

UEFA ALERTA OS ÁRBITROS PARA QUE CONHEÇAM A FORMA DE JOGAR DAS EQUIPES

Em relação aos melhores árbitros da atualidade, não se espera que sejam apenas bons administradores de um jogo de futebol, mas também devemos  incentivá-los a aprender tudo sobre os times e jogadores nas partidas que irão arbitrar em todo país.

No 23º Curso Avançado para Árbitros de Elite da UEFA e 24º Curso Introdutório para Árbitros Internacionais, realizado em Atenas, a UEFA está dando especial ênfase para que os árbitros recorram as informações sobre as táticas das equipes e a forma de jogar dos atletas em campo.

"Se estudar as táticas das equipes e as características individuais dos jogadores, podem estar um passo à frente para tomar decisões em diferentes situações da partida", disse o chefe de arbitragem da UEFA Pierluigi Collina, numa apresentação em Atenas no início da semana. A preparação de um árbitro está se tornando cada vez mais importante no futebol de hoje em dia.


O chefe dos oficiais técnicos da UEFA, Ioan Lupescu, foi à Grécia para contar sua própria experiência sobre a importância  dos árbitros aprenderem como jogam as equipes para melhorar suas próprias atuações.

Lupescu, que atuou como árbitro internacional por 74 vezes pela Romênia ao longo de 12 anos de uma longa e vitoriosa carreira, não só falou sobre a variedade de sistemas táticos que as equipes utilizam ​​nas competições europeias, como também destacou as tendências do futebol moderno, sempre com a intenção de ajudar a melhorar os árbitros. "Estou seguro que conhecer as equipes ajudará muito árbitros", disse.

O chefe dos oficiais técnicos da UEFA destacou a necessidade de árbitros estarem em boa forma para fazer frente a alta qualidade técnica, ritmo de jogo, e as transições e os contra-ataques que caracterizam o futebol moderno."Todas as equipes usam rápidos contra-ataques e de fato há equipes que baseiam todo seu ataque e contra-ataque em jogadas de bola parada".

A corrida individual, dois ou três passes rápidos para frente e os passes longos,  são algumas das armas mais usadas para vencer as defesas e Lupescu apoia seu discurso citando que durante a Copa do Mundo no Brasil, 34 dos 171 gols marcados, 20% do total, veio depois de contra-ataques e transições rápidas.

Outra tendência identificada por Lupescu é que as equipes usem muito o ''passe da morte", um passe desde as proximidades da  linha de meta, para trás, buscando um companheiro de equipe para ter a oportunidade perfeita de marcar. "Na UEFA Champions League, gols marcados depois de um passe para trás quase dobraram, saindo de 15 gols marcados na temporada 2009/10, para  28 gols  em 2010/11 e voltou a aumentar na temporada 2012/13. No final da fase grupos este ano, 20 gols já foram marcados desta forma", disse.

O jogo pelas laterais também se desenvolveu muito nos últimos anos, com a observação de que  no passado era jogado com dois jogadores nas extremidades, porém atualmente muitas equipes não jogam apenas com esses dois extremas, mas também com dois velocistas (alas) dispostos a se juntar aos atacantes.

Os árbitros  agora estão sendo ajudados nas grandes competições da UEFA por árbitros assistentes adicionais quanto à situações de jogo ocorridas dentro da área penal, algo que Lucescu considera de grande importância nas jogadas de bola parada, que geram muitos gols, como no tiros livres e nos tiros de canto. "Desde 2003/04, 24% dos gols na UEFA Champions League  foram marcados em jogadas de bola parada. Após três anos consecutivos de queda, o número aumentou para 26% na temporada passada ... E 27% de todos os gols até agora na temporada de 2014/15 vieram de lances de bola parada. "

Também ressaltou a importância dos últimos 15 minutos do jogo. A investigação da UEFA Champions League e das seis melhores ligas europeias nos  seis últimos  campeonatos europeus, mostrou que 23% dos gols foram marcados depois do minuto 75. "Os motivos variam. O cansaço, erros, alterações táticas, o marcador e as expectativas mudam ... Há um aspecto mental de cansaço, por exemplo, e os árbitros também devem levar em consideração este aspecto para suas próprias ações ", disse Lupescu.

Finalmente, Lupescu encerrou uma brilhante apresentação para discutir o papel do goleiro."Atualmente, os goleiros são treinados e evoluíram de forma diferente. O goleiro moderno atua como um jogador de linha e deve ser hábil com os pés para jogar sob pressão, ler o jogo e ser capaz de intervir fora da área penal nos contra-ataques. "

Fonte: UEFA

Nota

A argumentação é rica e incontestável. Árbitros  modernos precisarão buscar a maior quantidade possível de informações para que possam desempenhar seu  mister sem surpresas. Mas para isso é necessário que o futebol brasileiro se modernize também nesse aspecto, criando mecanismos para auxiliar o árbitro nessa leitura do jogo e das equipes. Os árbitros não tem formação como técnicos de futebol e pouco entendem de tática. No  máximo conseguem receber informações pontuais antes do jogo referente a um ou outro atleta.  É  muito pouco.  Os delegados de arbitragem e/ou instrutores precisam maior contato com técnicos de futebol contratados pela CBF e Federações Estaduais, com formação adequada, para que repassem seus conhecimentos e ensinem os árbitros a lerem o jogo de futebol. E com um agravante. A partir desse ano o árbitro assistente adicional passou a ser a ararinha azul do futebol brasileiro, espécie em extinção com muita gente tentando salvá-la. Mas sobre o tema  dedicaremos um post específico nos próximos dias.

Domingo tem ATLETIBA. Muita embora exista uma rivalidade histórica, a colocação das equipes na tábua de classificação faz crer que uma derrota não acarretará em grandes ameaças na sequencia do certame, somado a pouca importância que tem sido dado a esse confronto quando se trata de competição estadual. Portanto, não vejo qualquer óbice para a Comissão de Arbitragem indicar para o sorteio novos nomes que ainda não debutaram nesse jogo tão tradicional. É assim que se forja grandes árbitros, submetendo-os a novas experiências e saindo um pouco da zona de conforto. Pensei em citar nomes mas preferi  não fazê-lo. Talvez acabaria por prejudicá-los involuntariamente.   No Brasil tudo é interpretado politicamente. E política na arbitragem é sinônimo de fracasso.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Segue o campeonato paranaense

Antes da paralisação do campeonato paranaense para os festejos de carnaval, tivemos a realização da quarta rodada da competição. Acompanhamos algumas partidas e no geral a turma do apito foi bem. Vejamos.

ATLÉTICO X PRUDENTÓPOLIS

Árbitro: Paulo Roberto Alves Junior
Assistente1: Pedro Martinelli Christino
Assistente 2: Julio Cesar de Souza

O neto do feiticeiro, árbitro da CBF e uma das grandes promessas do apito das araucárias,  fez sua estreia no paranaense em grande estilo. Demonstrando muita tranquilidade,  controlou o jogo com naturalidade desde os primeiros momentos, sem a necessidade de paralisações desnecessárias e cartões por atacado. Parece que finalmente calçou as sandálias da humildade pois até seu gestual tornou-se mais discreto. A propósito, acredito que nesse jogo não tivermos 20 faltas. Dotado de excelente preparo físico, está sempre próximo das jogadas, o que lhe permite uma correta tomada de decisão, inibindo eventuais reclamações dos atletas.  Errou apenas ao não aplicar a lei da vantagem aos 9 minutos do primeiro tempo e em um ou outro lance que poderia ter marcado a infração. Muito pouco no contexto geral de uma partida de futebol. Os assistentes estiveram no mesmo nível do árbitro, acertando praticamente todas as marcações. Sob nossa ótica, o assistente 1 errou apenas num lance ao marcar impedimento do atacante do Prudentópolis que tira proveito por estar naquela posição após um rebote. No mais teve um atuação perfeita. Já o assistente 2 foi bastante exigido em relação a regra 11 (impedimento) e simplesmente acertou tudo. E olha que alguns lances foram bastante ajustados. Grande atuação. Excelente trabalho da equipe de arbitragem num jogo de baixo grau de dificuldade.

FOZ DO IGUAÇU X CORITIBA

Árbitro: Leonardo Sigari Zanon
Assistente 1: Rafael Trombeta
Assistente 2: Victor Hugo Imazu dos Santos

Na nossa querida fronteira, o árbitro escalado mostrou que não veio a passeio, realizando uma arbitragem espetacular. Leonardo é árbitro que pertence ao quadro nacional, com todas as possibilidades de alçar voos maiores, se um dia se conscientizar que a condição física é imprescindível para o sucesso na carreira. Tem todos os atributos para crescimento, mas sua condição física poderá frustá-lo futuramente,  encerrando prematuramente uma carreira que poderia ser muito promissora. Está na hora de acordar. Voltando ao jogo, teve uma atuação impecável, fazendo uma ótima  interpretação dos lances, inclusive no suposto tiro penal reclamado pelo Foz do Iguaçu no primeiro tempo, mas que não existiu. Uma pequena observação em relação ao tiro de saída. Somente colocar o pé sobre a bola não satisfaz os requisitos da regra 8. A bola somente estará em jogo no momento em que for chutada e se mover pra frente. E isso não aconteceu, como de praxe não vem acontecendo em  inúmeros jogos. Pequeno detalhe que precisa ser observado. Os assistentes acertaram em todas as marcações, sendo que o assistente 2 foi bastante exigido em relação a regra 11. Excelente arbitragem num jogo de baixa dificuldade.   

PARANÁ CLUBE X J. MALUCELLI

Árbitro: Fábio Filipus
Assistente 1: Diego Grubba Schitkovski
Assistente 2: Felipe Gustavo Schmidt

Fábio Filipus manteve o padrão de qualidade, realizando um arbitragem segura. Ao longo do jogo tivemos diversos lances reclamados de possíveis tiros penais, todavia, o único que efetivamente aconteceu foi marcado corretamente a favor da equipe do J. Malucelli. Todos os cartões bem aplicados, sem qualquer exagero disciplinar. Apenas um deslize. Encerrou o primeiro tempo no exato momento em que houve a cobrança curta de um tiro de canto a favor do J. Malucelli,  gerando fortes protestos por parte do técnico e dos atletas do J. Malucelli. Faltou bom senso e a decisão foi demonstração de inexperiência. Se iria encerrar aos 45 minutos, nem precisaria cobrar o tiro de canto pois o tempo estava esgotado. Se não encerrou, então deveria aguardar o desfecho do lance. Lembrando que o tempo adicional informado é apenas o mínimo a ser acrescido,  podendo o árbitro ultrapassar esse limite sem que tenha cometido qualquer irregularidade.  Os dois assistentes acertaram na quase totalidade das marcações. O assistente 1, cometeu o erro mais significativo do jogo, ao não marcar impedimento no gol de empate do J. Malucelli. Lance difícil mas observem nas imagens abaixo que no momento do lançamento o atleta do J. Malucelli já se encontra em posição de impedimento (foto 1) e, posteriormente, está implicado em jogo ativo, interferindo no jogo ao saltar junto ao zagueiro para cabecear (foto 2). O fato de não ter tocado não afasta o cometimento da infração. Sob outra ótica pode-se entender que houve a infração de impedimento por interferir no adversário. Nesse caso, seria no momento em que  o atacante, em posição de impedimento, parte para a disputa saltando com o zagueiro. Ótima arbitragem em jogo de média dificuldade pela quantidade de grandes decisões.

FOTO 1




FOTO 2



     

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A sorte está lançada - Alea jacta est



A sorte está lançada. No latim, alea jacta est.

Conta Suetônio (69-122), que Julio César disse essa frase no ano 49 a.C., em plena guerra civil romana, confrontando-se os generais Pompeu, quando César postava-se vacilante, com seu exército às margens do Rubicão, rio que separava a Itália da Gália Cisalpina. 

Em dado momento César viu um homem muito alto, sentado próximo, pitando um pedaço de junco. 

A estranha figura arrebatou a trombeta de um soldado e, pondo-se a soprar o toque de batalha, vadeou o rio em direção à margem oposta. 

Empolgado, Júlio César anunciou: 

"Vamos avançar, e seguir para onde quer que os desígnios dos deuses e as provocações dos inimigos nos chamem." 

A visão daquele ser fantasmagórico que avançara resoluto, convocando seu exército à batalha afigurou-se a César um sinal divino. 

Competia-lhe obedecer.

Resoluto, fez, em altas vozes, a proclamação famosa:

– Alea jacta est! – a sorte está lançada!

E atravessou o Rubicão, dando início a uma guerra que culminaria com seu triunfo sobre as tropas de Pompeu.

Você deve achar que enlouqueci de vez. Quase! Ou então está se perguntando: qual a relação entre arbitragem e a sorte? Eu responderia: "Toda e total!" Explico.

Já diz o ditado que árbitro e trapezista, além de competência, precisam de muita sorte. E quando  a competência deixa de ser requisito para figurar numa escala de arbitragem restando apenas a sorte? Não haveria um termo mais adequado, sorte, para definir as expectativas que rondam os árbitros do futebol brasileiro a cada rodada, considerando que pouco importa seu nível de qualificação, experiência na função  ou o desempenho alcançado nos jogos que comandou para garantir futuras designações. Quem nos lê em outros países (e tem) deve imaginar que a tradução não está sendo fiel ao texto original, tamanho o absurdo da medida. Mas nesse caso, acreditem se quiser, o Brasil é o único país do mundo onde os árbitros de futebol são escalados para os jogos mediante sorteio.

Como foi reconhecida a profissão recentemente, numa norma legal de pouca utilidade prática, o profissional de arbitragem deve ser o único no país que depende de um globo repleto de bolas pares e ímpares para saber se trabalhará ou não. Detalhe que se a bola não cair, também não cairá qualquer centavo de real em seu bolso. 

Tudo começou quando os nossos legisladores, sérios, probos e acima de qualquer suspeita, resolveram criar um mecanismo que supostamente acabaria com esse grupo de malfeitores chamados árbitros de futebol, inserindo algumas normas no famoso Estatuto de Defesa do Torcedor, concebido através da Lei nº 10.671/03, com as alterações processadas pela Lei nº 12.299/10, destinando um capítulo específico a arbitragem esportiva, que tomarei a liberdade de lançar alguns comentários (*). Diz a lei em comento: 


CAPÍTULO VIII


DA RELAÇÃO COM A ARBITRAGEM ESPORTIVA


Art. 30. É direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões. 

(*) Isso quer dizer que até então os árbitros eram parciais e dependentes. Não bastasse os ridículos honorários que são pagos em algumas competições pelos padrões do futebol, muitas vezes receber já é uma conquista. Receber previamente é letra morta na referida lei. Isenta de pressões? Balela. Pra pressionar a arbitragem  colocam o banco da equipe mandante com quase vinte pessoas na orelha do assistente ao longo do jogo. Em alguns casos o vestiário da equipe mandante é lindeira ao vestiário da arbitragem. 

Parágrafo único. A remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de responsabilidade da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora do evento esportivo.

(*) Salvo uma ou outra exceção quem paga é o clube subtraindo do borderô da partida. E se não der renda? Em muitos estados provavelmente não receberá. Então o árbitro precisa torcer pra ser contemplado no sorteio e rezar ainda mais pra que tenha público no estádio. 

Art. 31. A entidade detentora do mando do jogo e seus dirigentes deverão convocar os agentes públicos de segurança visando a garantia da integridade física do árbitro e de seus auxiliares.

(*) Segurança no Brasil? Pulo. 

Art. 31-A. É dever das entidades de administração do desporto contratar seguro de vida e acidentes pessoais, tendo como beneficiária a equipe de arbitragem, quando exclusivamente no exercício dessa atividade. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
(*)  Existe sim. Rezemos pra que os árbitros não precisem usá-lo.

Art. 32. É direito do torcedor que os árbitros de cada partida sejam escolhidos mediante sorteio, dentre aqueles previamente selecionados.

(*) Vide abaixo. Cumpre-se. Árbitros de cada partida (no plural).

§ 1º O sorteio será realizado no mínimo quarenta e oito horas antes de cada rodada, em local e data previamente definidos.

(*) Vide abaixo. Cumpre-se.

§ 2º  O sorteio será aberto ao público, garantida sua ampla divulgação.

(*) Vide abaixo. Cumpre-se.


O tal do sorteio de árbitros foi uma inovação trazida pelo art. 32 do Estatuto do Torcedor. Parte da premissa de que os árbitros são parciais, dependentes e, ao contrário do que prega a Magna Carta, desonestos e culpados por presunção legal. Pior é ouvir que essa metodologia de escolha assegura mais imparcialidade e independência na atuação dos árbitros, transparência e neutralidade. Como se um sorteio com 48 horas de antecedência pudesse inibir qualquer tipo de falcatrua em sites de apostas, etc. O que o legislador fez foi exatamente o mesmo que o marido traído, ao vender o  sofá da sala   pra acabar com os encontros amorosos da esposa libertina. Em outras palavras, o sorteio jamais impedirá casos de manipulação de jogos e compra de resultados. E arremato dizendo o que sempre preguei abertamente. 

"Os árbitros de futebol pertencem a uma das classes profissionais mais honestas de que tive a oportunidade de participar."

Pior é saber que a indigitada lei foi objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIN, ajuizada pelo Partido Progressista, decidindo a Suprema Corte que o Estatuto do Torcedor é totalmente constitucional. E a ANAF, salvo melhor juízo, sequer participou como Amicus Curie (amigo do rei)  pra esclarecer alguns pontos controvertidos. Sua inconstitucionalidade é flagrante e não ultrapassa o artigo 5º da Constituição, referente aos direitos e garantias fundamentais, dentre elas o contido no inciso XIII que diz:

"É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendendo as qualificações profissionais que a lei estabelecer."

No caso do árbitro de futebol, mesmo qualificado profissionalmente, precisará se submeter a um sorteio, pois do contrário está vetado seu exercício, mesmo que os responsáveis pelas designações dos árbitros queiram escalá-lo. 

Será que o mesmo legislador aceitaria sortear entre o médico especialista e o recém formado para realização da cirurgia de alto risco?  Porque não sortear entre o piloto experiente e o novel aviador para assumir o comando da aeronave particular? E os réus do mensalão  escolheram advogados recém formados ou  renomados criminalistas? 

Mas o que mais me impressiona nesse circo dos horrores, é a pompa que se dedica ao sorteio de árbitros no Brasil. Tornou-se um acontecimento de norte a sul, frequentado até por presidente e diretores de federações, com transmissão ao vivo, repetição dos melhores momentos, enfim, um evento garboso e glamoroso destinado a uma inutilidade sem precedentes. E nesse caso não há qualquer previsão legal mas pura vaidade ou excesso de zelo sem nada que justifique.

Pra finalizar pergunto: 

Porque somente o árbitro é sorteado enquanto os árbitros assistentes são designados diretamente? Se a lei fala em árbitros para cada jogo no plural, certamente refere-se a toda equipe de arbitragem, pois do contrário o texto viria no singular. Pensando bem, quanta tolice. E eu desperdiçando  meu tempo pra escrever sobre essa baboseira legislativa. Pra que fique bem claro, refiro-me e analiso apenas a parte da lei direcionada a arbitragem, até porque a norma, no geral,  contém diversos avanços. 

Esperança de mudanças agora tem um nome. Deputado Federal Evandro Rogério Roman. Quem sabe seja esse seu primeiro projeto vitorioso  em prol da classe a qual ainda pertence. 

      

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Terceira rodada

A terceira rodada do campeonato paranaense 2015 começou no último sábado com o jogo Coritiba e Operário, partida que acompanhamos pela TV fechada. No domingo, assistimos a partida  entre Maringá e Londrina, assim como, no fechamento da rodada, ao clássico Atlético e Paraná. Vejamos como foi o desempenho da turma do apito.

CORITIBA X OPERÁRIO 

Árbitro: Rodolpho Tosky Marques 
Assistente 1: Ivan Carlos Bohn
Assistente 2: Arestides Pereira S. Junior 

O jovem Rodolpho Tosky Marques (27),  que apita profissionalmente desde os 19 anos, tem se destacado muito a  nível estadual, atuando em  jogos decisivos e diversos clássicos, inclusive já tendo apitado o de maior repercussão e rivalidade,  o tradicional Atletiba de tantas histórias no futebol paranaense.

Não menos promissora tem sido sua carreira a nível nacional, representando o Estado do Paraná no quadro de árbitros da CBF, tendo atuado em todas as competições nacionais, excetuando-se a série A, onde seu nome chegou a figurar no famigerado sorteio, porém não foi bafejado pela sorte. Essa é mais uma dessas maravilhosas inutilidades que os nossos políticos criaram sob o pretexto de evitar supostas manipulações de resultados.  Prometo voltar ao tema e dedicar um post completo pra tratar dessa aberração chamada sorteio  previsto em lei federal.

Neste jogo de sábado,  a primeira meia hora mais parecia aqueles jogos entre casados e solteiros. O árbitro era um expectador privilegiado. A partir desse ponto parece que os atletas acordaram e resolveram jogar ou ao menos correr futebol. Disciplinarmente o  grau de exigência aumentou muito, principalmente na segunda etapa quando começaram a sobrar braços, cotovelos e algumas entradas mais duras.

Durante alguns minutos o árbitro deixou transparecer que estava perdendo o controle da partida. Talvez pelo equívoco de imaginar que poderia usar a todo instante o artifício de reiniciar rapidamente o jogo para dispersar os encrenqueiros. E na parada seguinte, nova confusão e a bola de neve crescendo. Essa técnica é recomendada desde que não haja gravidade na conduta disciplinar pois do contrário o que teremos é revide atrás de revide e o clima esquentando cada vez mais. Todavia,  ao que tudo indica o árbitro percebeu que não resolveria os problemas disciplinares simplesmente fazendo vistas grossas e reiniciando o jogo com rapidez,  começando a mostrar os cartões necessários e retomando o controle da partida.

No geral as advertências foram bem aplicadas, faltando apenas uma aos 40 do segundo tempo, num lance em que o atleta do Operário atinge o rosto do adversário com o cotovelo. A expulsão do atleta do Operário foi daqueles lances que é mais que amarelo e menos que vermelho. Aceito a interpretação do árbitro. Outro ponto diz respeito ao comportamento do atleta Negueba que ao receber a advertência decidiu protestar contra a decisão do árbitro, com uso de palavras e gestos, inclusive abandonando o campo de jogo sem autorização do árbitro. Poderia ter sido expulso e o árbitro agiria de acordo com o previsto na regra 12. Tecnicamente cometeu alguns pequenos deslizes, nada significativo, com exceção do último lance do jogo em que o atleta do Coritiba foi claramente derrubado na área penal. Felizmente não interferiu no resultado final da partida. Os assistentes tiveram um ótimo desempenho com pequenos erros totalmente desprezíveis.

MARINGÁ X LONDRINA 

Árbitro: Lucas Paulo Torezin
Assistente 1: Adair Carlos Mondini
Assistente 2: Everson de Souza

O jovem árbitro reprisou a excelente atuação do meio de semana,  realizando uma arbitragem irrepreensível. O único lance que poderia demandar alguma discussão seria o segundo gol do Londrina, que supostamente teria sido irregular. Confesso que vi e revi, inclusive em câmera lenta e não consegui chegar a uma conclusão definitiva se a bola foi ou não dominada no braço. Portanto, fico com o ponto de vista do árbitro e do assistente 1.  E naquela defesa extraordinária do goleiro do Londrina, a  bola não ultrapassou a linha fatal. Foi bem demais o assistente Everson de Souza. Erro zero da turma da arbitragem. Parabéns a todos.

ATLÉTICO X PARANÁ

Árbitro: Edivaldo Elias da Silva
Assistente 1: Bruno Boschillia
Assistente 2: Weber Felipe Silva

O veterano árbitro foi bastante exigido no clássico. Vários foram os fatores que aumentaram o grau de dificuldade da partida, a começar pela própria rivalidade das equipes, passando pelo  ímpeto dos jovens atletas e da condição do gramado  decorrente das  fortes chuvas. Não bastasse isso, o gol mal anulado do Paraná no inicio da partida  aqueceu ainda mais  o clima do jogo. No geral a arbitragem foi boa, tanto no aspecto técnico como disciplinar. Cartões amarelos bem aplicados e uma expulsão inusitada por dupla advertência, cujo cartão amarelo derradeiro foi mostrado no momento que o atleta do Atlético, ao perceber que seria substituído, deitou no gramado para ganhar tempo e obrigar a entrada da maca. O árbitro não caiu nesse teatro e expulsou o atleta por dupla advertência. O árbitro poderia administrar a situação mas agiu conforme as regras. Só espero que não se resuma a um único lance e jogo. O tiro penal foi muito bem marcado em lance claro de toque de mão voluntário.

O assistente Bruno Boschillia, Fifa, foi pouco exigido e os poucos erros cometidos foram em lances sem importância. Já o assistente 2, o jovem Weber, foi bastante exigido, principalmente na sua principal missão que é a regra 11 (impedimento). Errou na anulação do primeiro gol do Paraná, lance de alto grau de dificuldade, pois a avaliação não é no momento em que a bola parte na execução do tiro livre, mas quando é desviada de cabeça. A linha da área de meta serve de referência, considerando a distorção que apresenta a imagem da TV lateralizada. Lembrar que os demais atletas do Paraná, ainda que estivessem em posição de impedimento, não estariam implicados em jogo ativo, seja participando do jogo, interferindo no adversário ou tirando proveito por estar  na posição, segundo as novas interpretações da regra 11. Como não sou dono da verdade, vejam a imagem abaixo e tirem suas conclusões. No segundo gol anulado do Paraná acertou em cheio. Houve outros erros e acertos em relação a regra 11 em lances ajustados sem consequências. Atuação regular do assistente 2 que acabou interferindo no resultado final da partida.






sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Segunda rodada do paranaense 2015

Antes de analisarmos a segunda rodada  do campeonato  paranaense, precisamos pagar a promessa. Numa das últimas postagens relatamos um fato ocorrido no jogo Nacional x Coritiba,  e indagamos quais os possíveis desdobramentos em situações hipotéticas. Vamos relembrar o caso:

"No início da segunda  etapa, o árbitro foi alertado pelo assistente 2, informando que a equipe do Nacional procedeu  uma substituição no vestiário sem informar a arbitragem, descumprindo o procedimento obrigatório previsto nas regras do jogo. Pela conduta antidesportiva, o atleta recebeu cartão amarelo corretamente, porém permaneceu no campo de jogo, quando deveria ter sido retirado conforme determina a regra. Pergunto: e se porventura o substituto  marcasse um gol, cometesse uma falta temerária dentro da sua área penal ou praticasse uma conduta violenta contra um adversário que viesse a revidar?"

Tenho convicção de que o atleta  do Nacional não agiu de má fé, muito pelo contrário, demonstrou desconhecimento das regras do jogo ao ingressar no campo de jogo sem observar o procedimento necessário e obrigatório. 

Nesse caso, como o jogo estava paralisado, o reinício foi conforme as regras do jogo. Se o jogo estivesse em andamento e o árbitro percebesse a irregularidade, deveria paralisar, caso não pudesse conceder a vantagem a equipe adversária, advertindo o atleta substituto com cartão amarelo, e determinando sua retirada do campo de jogo de jogo.  

 Lembrar sempre que o motivo da punição é conduta antidesportiva, pois a previsão legal de advertência por entrar ou retornar ao campo de jogo sem autorização do árbitro, somente se aplica aos jogadores, jamais aos substitutos e substituídos. No caso de paralisação, o jogo deve ser reiniciado com tiro livre indireto a favor do adversário no local onde se encontrava a bola no momento da paralisação. 

A propósito, como não houve a concretização da substituição, nada impediria que o técnico mudasse o substituto, principalmente por ter sido advertido, ou ainda retornasse  o jogador que foi substituído. E se esse substituto marcasse um gol? Se fosse percebido pelo árbitro antes do reinício do jogo, esse gol seria invalidado e o reinício se daria através de tiro livre indireto a ser executado na área de meta. 

Por outro ladro, se o substituto cometesse uma falta temerária dentro da sua área penal, seria expulso por dupla advertência, ambas por conduta antidesportiva, sendo a primeira por ingressar no campo sem autorização, e a segunda por cometer uma falta temerária.

Todavia, o tiro penal não poderia ser marcado, devendo o jogo reiniciar com tiro livre indireto a favor do adversário no local onde se encontrava a bola quando o jogo foi paralisado. Haja camburão! 

Pior ainda se praticasse uma conduta violenta e o adversário revidasse na mesma proporção. O adversário seria expulso e sua equipe permaneceria com 10 atletas. Por outro lado, o substituto seria expulso mas sua equipe permaneceria com 11 atletas. Como a substituição não se concretizou, ele deixaria o campo de jogo e o atleta substituído poderia retornar,  ou ainda ingressar no jogo outro substituto designado. 

Nesse caso a equipe do substituto ficaria com um a menos no banco de suplentes. Haja injustiça! Mas não foram os árbitros que criaram as leis do jogo. Se são justas ou injustas isso é problema de quem as concebeu. O árbitro está ali apenas para cumpri-las e ponto final.

Passemos a análise da rodada do meio de semana.

CORITIBA X MARINGÁ  

Árbitro: Rafael Traci
Assistente 1: Rafael Trombeta
Assistente 2: João Fábio Machado Brischiliari

Rafael Traci pertence ao quadro da CBF, jtendo conquistado algum destaque,  se considerarmos que ingressou recentemente na relação nacional.  É daqueles que nasceu para ser árbitro de futebol. Dono de uma personalidade forte, controla o jogo como poucos, ganhando a respeitabilidade dos atletas naturalmente. Sua grande luta ao longo da carreira foi contra a balança pois tem a tendência natural de engordar. Mas percebemos que de uns tempos pra cá tem se mostrado em boa forma física e isso certamente está colaborando em seu bom desempenho. 

 Neste jogo, teve uma boa arbitragem com alguns reparos, principalmente na parte disciplinar. As advertências foram bem aplicadas, mas faltou um pouco de critério, haja vista que presenciamos lances idênticos com tratamento diferenciado. Apenas a título de exemplificação, aos 16 minutos de jogo, o defensor do Coritiba recebeu cartão amarelo ao praticar uma falta tática no adversário. Um pequeno toque por trás pra matar o lance de ataque. Já aos 40 minutos do primeiro tempo, lance idêntico, desta feita o atacante do Coritiba recebe uma falta tática também por trás, com a mesma intensidade, só que não houve a apresentação do cartão amarelo. Excetuando as pequenas observações, foi muito bem na parte disciplinar. 

Na parte técnica,  entendo que o goleiro do Maringá cometeu num tiro penal aos 32 minutos do primeiro tempo. Lance difícil que certamente demandará opiniões divergentes e talvez nosso ponto de vista seja voto vencido. Ocorre que a bola acabou parando na água dentro da área penal, enganando o defensor do Maringá, momento em que o goleiro se lança contra a bola mas acaba atingindo também o atacante do Coritiba. O fato de visar a bola não dá o direito ao goleiro de derrubar tudo que está a sua frente. É o mesmo raciocínio em relação a outro atleta qualquer, até porque a única diferença é que o goleiro tem a prerrogativa te tocar na bola com as mãos no interior da sua área penal. Repito, lance difícil, que pegou o árbitro de surpresa, mas sob nossa ótica houve a infração e o tiro penal deveria ser marcado. 

 No geral considero bom o trabalho de Rafael Traci nesse jogo. Já o excelente e estudioso assistente Rafael Trombeta, também pertencente ao quadro nacional, não teve a percepção exata no segundo gol da equipe do Coritiba, marcado em completo impedimento. Explico. No momento em que a bola foi alçada na área, um jogador do Coritiba está em posição de impedimento e, quando parte para a disputa efetiva da bola com o goleiro do Maringá, deveria ser sancionado por estar implicado em jogo ativo ao interferir no adversário. Por outro lado acertou em todas as demais marcações, inclusive no gol do Maringá  ao habilitar o atacante.   João Fábio Machado Brischiliari, outro talento que irá despontar no quadro nacional, teve uma noite mais tranquila e acertou todas as marcações.


RIO BRANCO X ATLÉTICO  

Árbitro: Lucas Paulo Torezin
Assistente 1: Sidmar dos Santos Meurer
Assistente 2: Rafael Dias de Melo

Lucas Paulo Torezin, novo integrante do quadro de árbitros da CBF em 2015, com todos os méritos, teve uma excelente arbitragem no litoral paranaense. Sua presença física sempre próxima aos lances é um diferencial que renderá bons frutos na carreira. Tem colocação perfeita e transmite muita tranquilidade ao jogo. Seu grande adversário talvez tenha sido o gramado pesado em razão das fortes chuvas, obrigando a redobrar a atenção em jogadas mais ríspidas. Mas os atletas colaboram com seu trabalho disputando um jogo de maneira muito leal.  Não detectamos quaisquer deslizes na partida, seja de ordem técnica ou disciplinar. O assistente 1, Sidmar dos Santos Meurer, pertencente ao quadro nacional, acertou em praticamente todas a marcações, algumas de alto grau de dificuldade. Com os devidos descontos pela posição muitas vezes inadequada da câmera de televisão, acredito que tenha se equivocado num impedimento aos 37 minutos, num lançamento longo, situação que normalmente é problemática para os assistentes pela dificuldade de aferir simultaneamente o momento do passe e a posição do atleta implicado em jogo ativo. Mas nesse caso não posso cravar com certeza. Já aos 40 minutos do segundo tempo, com certeza absoluta, o jogador do Atlético não estava impedido, o que considerado o único erro comprovado do assistente. Muito bom trabalho. E na sequência deste lance, reclamaram de um possível tiro penal que inexistiu. Atacante chega primeiro, toca na bola e o goleiro corta também atingindo somente a bola. Absolutamente nada.   Rafael Dias de Melo, jovem e promissor assistente, aparentemente acertou em todas as marcações. Do seu lado a TV foi camarada ao posicionar uma câmera em local onde poucas conclusões se podia tirar.   

PARANÁ X CASCAVEL  

Árbitro: Nilo Neves de Souza Junior
Assistente 1: Victor Hugo Imazu dos Santos
Assistente 2: Alessandro Rodrigues Mori

No fechamento da rodada, Nilo Neves de Souza Junior, de longa carreira na CBF,  apitou o jogo dos sonhos de todo árbitro. Verdadeiro mamão com açúcar. Jogo morno, poucas jogadas nas áreas penais onde normalmente acontece tudo de bom e ruim na vida de um árbitro, enfim, baixa exigência pra arbitragem. Mas isso não é problema dele, que ao longo do jogo teve um comportamento irrepreensível, com erros muito pequenos, totalmente desprezíveis. Sua condição física invejável transformou seu trabalho num treino de luxo. Os dois assistentes, ambos com traços orientais, mostraram que estavam de olhos bem abertos e acertaram tudo. O lance mais difícil ocorreu aos 40 minutos do segundo tempo, num ataque da equipe do Paraná, onde atacante e defensor encontravam-se ajustadíssimos na mesma linha, acertando o assistente 1 Victor Imazu, do quadro nacional, ao permitir que a jogada prosseguisse. Parabéns a todos pelo excelente trabalho neste jogo.   

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Entrevista com Márcio Rezende de Freitas

Conforme havíamos prometido, de tempos em tempos abriremos espaço para contar um pouco da história de pessoas que marcaram época na arbitragem brasileira. Iniciamos com o ex-árbitro FIFA e atual comentarista de arbitragem da Rede Globo Minas Gerais, Márcio Rezende de Freitas. Para quem não sabe, além de grande árbitro e comentarista, Márcio desenvolve uma série de trabalhos sociais buscando contribuir com a melhoria de vida dos jovens brasileiros na sua região. Acreditem, atrás de um grande apito muitas vezes temos um  homem ainda maior que poucos conhecem.

Márcio, fale um pouco sobre sua carreira e o que motivou a ser árbitro de futebol


Eu jogava futebol e passei por Atlético Mineiro, Itaúna, Votuporanguense e América Mineiro. Passei em três vestibulares e optei por ir estudar, largando o futebol. Continuei jogando futebol amador, no Monte Azul de Belo Horizonte. Um dos empresários que mantinham a equipe, assumiu um cargo no Departamento de Futebol Amador de BH, e vendo que já não me interessava em jogar futebol, me convidou para apitar futebol, começando obviamente pelo amador. Respondi a ele que aquilo nunca me passou pela cabeça. Mas, após algum tempo, lá estava eu fazendo o curso para árbitros.

Cite os momentos mais marcantes em sua carreira.

São vários os momentos que ue marcaram minha carreira. Final do Mundial Interclubes no Japão, Copa da França, Olimpíadas de Barcelona, Sub-20 no Qatar, várias finais em todos os níveis, etc.

Você foi convidado para apitar no Estado do Paraná em 2001. Como surgiu o convite? 

Fui convidado, junto com Oscar Godói, pelo então presidente da CA, Marcondes para atuar na Federação Parananense. Foi uma excelente experiência, onde aprendi muito. Fizemos um trabalho de também levar nossa experiência e dividí-la com os árbitros da federação. Foi uma experiência de mão-dupla.

Em sua opinião, em que estágio está a arbitragem brasileira?

A arbitragem brasileira vive um momento de transição, mesclando árbitros experientes com jovens valores. Esse trabalho que tem ter continuidade, acreditar nos novos valores. O trabalho de renovação é sempre importante.

Você vê o surgimento de novos árbitros?

Conforme exposto acima, tenho visto novos e bons árbitros surgirem. Mas vou falar apenas em um nome, o Dewson Freitas. Como está apitando futebol, esse rapaz. Não o conheço pessoalmente, mas para mim, foi uma das maiores revelações dos últimos anos.

Que dicas você deixa para a nova geração da arbitragem brasileira?

O conselho que pode ser dado é que tenham coragem para marcar, ou não, aquilo que viram. E, ponto. Sem política.

Qual a sua opinião a respeito da profissionalização da arbitragem? 

A profissionalização é um processo de longa maturação. Muita gente já trabalhou no processo, e muitas outras pessoas continuam trabalhando. Mas, o problema é político. Se os dirigentes não quiserem, não vai acontecer. Cobra-se muito da arbitragem, mas não querem e não proporcionam aos árbitros condições mínimas para que possam executar seu trabalho.

Fale sobre seu novo trabalho: comentarista de arbitragem da Rede Globo em Minas Gerais, a Copa do Mundo, etc.... .

Gosto muito do que faço hoje. Procuro fazer meu trabalho de forma didática para que o telespectador/torcedor possa entender um pouco mais sobre as leis do jogo. Mesmo aqueles que não entendem de futebol. O problema é que os árbitros gostam sempre de serem elogiados, e não aceitam com bom grado, as críticas. Quando você critica, muitos viram o nariz e até deixam de falar com você.


(Foto) Márcio Rezende De Freitas ao lado de Sérgio Correa, atual presidente da Comissão de Arbitragem da CBF,  recebendo uma comenda das mãos do paraguaio Carlos Alarcón, mais antigo  membro da comissão de árbitros da FIFA,  por ter preenchido uma série de requisitos exigidos pela FIFA ao longo da sua carreira.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Regra 4 - Equipamento dos jogadores



O tempo passa e pelo jeito o desconhecimento das regras do jogo continua sendo uma norma sem exceções nos clubes brasileiros. Vejam a última. A equipe do Bahia, em parceria com seu novo fornecedor de material esportivo, imaginou que teria descoberto o antídoto para o calor intenso que desgasta sobremaneira os atletas profissionais, principalmente nessa época do ano, minimizando seus efeitos através do uso de camisa sem mangas (foto), especialmente em partidas disputadas em locais com forte calor. 

A ideia não é original e chega com 13 anos de atraso pelas bandas de Salvador. Na Copa das Nações Africanas de 2002, disputada em Mali, a camisa sem mangas foi utilizada pela primeira vez pela seleção de Camarões. E pelo jeito a novidade funcionou, pois o time camaronês conquistou à época seu quarto título com uma vitória na grande final em cima de Senegal. Durante toda competição a camisa regata foi usada e chamou muita atenção da imprensa internacional.

Empolgados com o resultado obtido no campo, em abril daquele mesmo ano, a Federação Camaronesa de Futebol consultou a FIFA, demonstrando sua intenção de utilizar a famosa regata na Copa do Mundo de 2002, disputada na Coréia e Japão. Mas acabava por aí a alegria dos camaroneses pois a FIFA negou o pedido africano, alegando que feria o regulamento da competição. 

Não satisfeitos, os camaroneses decidiram novamente inovar em 2004, apresentando camisa e calção em peça única, o que foi rechaçado de plano pela FIFA.  

Voltando ao caso Bahia, ao consultar a CBF a respeito da possibilidade de usar tal camisa, os dirigentes baianos receberam como resposta, através de Ofício encaminhado pelo gerente de competições Manoel Flores, que o uso está vetado, pois fere o regulamento da FIFA.


Na verdade, os dirigentes  sequer precisariam formular consulta a CBF, pois a vedação, além de constar no regulamento da FIFA, está inserida nas regras do jogo, ao dispor sobre o uso da camisa de jogo ou agasalho,  alertando que no caso de uso de roupa por baixo da camisa, as mangas dessa roupa deverão ter a cor principal das mangas da camisa ou do agasalho."

Portanto, se a regra do jogo obriga que as camisas internas tenham a mesma cor da manga do uniforme de jogo, a simples referência as mangas é suficiente para concluir que está vetado o uso de camisa sem mangas, tornando-as obrigatórias. A propósito, este é um pequeno detalhe que deve ser observado pelos árbitros, pois é comum uniformes com cores diferentes no tronco e nas mangas. Resumindo, camisa interna deve ser da cor da manga da camisa.

Ainda sobre a regra 4, transcrevemos abaixo a  decisão da IFAB incluída na nova edição das regras do jogo.  

"Decisão 1 do International F. A. Board"

Equipamento básico obrigatório 

O equipamento básico obrigatório não poderá ter lemas, mensagens ou imagens políticas, religiosas, nem pessoais. O organizador da competição ou a FIFA punirá a equipe infratora de um jogador cujo equipamento básico obrigatório tenha lemas, mensagens ou imagens políticas, religiosas ou pessoais.

Roupa interior

Os jogadores não podem mostrar qualquer roupa interior que tenha lemas, mensagens ou imagens políticas, religiosas ou pessoais, tampouco outra publicidade que não seja o logotipo do fabricante. O organizador da competição ou a FIFA punirá a equipe ou os jogadores que mostrem em qualquer roupa interior lemas, mensagens ou imagens políticas, religiosas ou pessoais, ou outra publicidade que não seja o logotipo do fabricante.

Notem que o árbitro deverá relatar o fato em súmula, porém não há necessidade de advertir o atleta com cartão amarelo.

Ainda na Regra 4, uma nova orientação referente ao uso de protetores de cabeça,  utilizados  por alguns goleiros. Diz o texto:

Os protetores de cabeça, quando forem usados, devem:

1) Ser de cor negra ou da cor principal da camisa (todos os jogadores da mesma equipe devem usar protetores da mesma cor).

2) Estar de acordo com as exigências profissionais do equipamento dos jogadores.

3) Ser separados da camisa.

4) Ser seguros e não causar nenhum risco para o jogador que o usa, nem para qualquer outro jogador (por exemplo: não ter o mecanismo para abri-lo ou fecha-lo em volta do pescoço).

5) Não ter partes sobressalentes (protuberâncias).

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Largada do campeonato paranaense 2015

Começou no último sábado o campeonato paranaense 2015. Acompanhamos os três jogos transmitidos pelas televisões aberta e fechada. A seguir vamos fazer uma breve análise do trabalho desenvolvido pela equipe de arbitragem em cada jogo:

1) Nacional X Coritiba

Árbitro: Fábio Filipus
Assistente 1: Julio Cesar de Souza
Assistente 2: Felipe Gustavo Schmidt

Fábio Filipus, pra quem não se recorda, foi o árbitro que apitou a final do campeonato paranaense 2014 entre Maringá e Londrina. Neste jogo de abertura teve uma atuação muito boa tanto no aspecto técnico como no disciplinar. Fisicamente, como de costume, sobrou. Em momento algum perdeu o controle da partida, praticando uma arbitragem moderna, permitindo que o jogo se desenvolvesse sem aquelas interrupções   desnecessárias que tornam o jogo chato e enfadonho. As advertências aplicadas,  a expulsão do atleta do Nacional,  assim como a marcação do tiro penal a favor do Coritiba, foram acertadas. A propósito, o próprio zagueiro do Nacional ao ser entrevistado, parabenizou o árbitro pela marcação reconhecendo que cometeu a falta ao atingir o atacante do Coritiba no tornozelo esquerdo. Confissão continua sendo a rainha das provas. Apenas  um equívoco por parte do árbitro. No início da segunda  etapa, o árbitro foi alertado pelo assistente 2, informando que a equipe do Nacional procedeu  uma substituição no vestiário sem informar a arbitragem, descumprindo o procedimento obrigatório previsto nas regras do jogo. Pela conduta antidesportiva, o atleta recebeu cartão amarelo corretamente, porém permaneceu no campo de jogo, quando deveria ter sido retirado conforme determina a regra. Pergunto: e se porventura o substituto  marcasse um gol, cometesse uma falta temerária dentro da sua área penal ou praticasse uma conduta violenta contra um adversário que viesse a revidar? Nos próximos posts vamos retomar o assunto com mais detalhes. O assistente 1, Julio César de Souza, teve uma boa atuação, errando apenas na marcação de um impedimento do atacante do Nacional quase ao final da partida. Nada que desabone sua atuação. Já o assistente 2, o jovem e promissor Felipe Gustavo Schmidt, muito embora tenha acertado  praticamente todas as marcações, protagonizou o erro mais grave da partida, ao não confirmar o gol a favor do Coritiba, numa bola que ultrapassou em muito a linha de meta (imagem abaixo). E pela característica do lance e posicionamento do assistente, entendemos que a decisão era relativamente fácil. Deu branco. Felizmente não interferiu no resultado final da partida. Vida que segue.



2) Paraná X Prudentópolis

Árbitro: Rogério Menon da Silva
Assistente 1: Ivan Carlos Bohn
Assistente 2: André Luiz Severo

Rogério Menon da Silva é daqueles árbitros que raramente traz problemas para comissão de arbitragem. Consegue manter uma regularidade nos jogos que comanda. Certamente brigaria por uma vaga no quadro nacional não fosse a barreira etária  criada pela CBF que já afastou e continua afastando dos gramados árbitros talentosos que muito contribuiriam para melhoria da arbitragem brasileira. No jogo de sábado manteve o padrão habitual com uma arbitragem segura, permitindo um jogo com poucas paralisações e alguns cartões mostrados pontualmente. Dotado de um excelente preparo físico, consegue estar sempre próximo do lance, facilitando a tomada de decisão. Outra qualidade é a sua discrição e a facilidade de movimentação de costas e lateralmente quando as circunstâncias do jogo exigem.  Parece simples mas a maioria dos árbitros tem enormes dificuldades nesse quesito. Faz uma ótima leitura tática do jogo, talvez por ter sido atleta profissional. Carimbou sua próxima escala. Os assistentes tiveram uma atuação segura, sem erros significativos.  Uma pequena observação ao assistente 2, André Luiz Severo. Na segunda etapa um atleta do Paraná estava caído no campo de jogo, no setor defensivo de sua equipe e com a bola em jogo, e o assistente simplesmente desconsiderou a presença desse atleta em campo, buscando a linha do penúltimo defensor mais a frente, equivocadamente. Deveria permanecer na linha do atleta caído até a próxima interrupção do jogo. Pequeno deslize num jogo em que o trabalho da equipe foi ótimo.

3) Cascavel X Atlético 

Árbitro: Felipe Gomes da Silva
Assistente 1: Moisés Aparecido de Souza
Assistente 2: Jefferson Cleiton Piva da Silva

Felipe Gomes da Silva é natural do Rio de Janeiro e incorporou-se ao quadro de árbitros da federação paranaense de futebol em função do exercício de cargo público federal no estado. Como aspirante a Fifa é atualmente o melhor ranqueado a nível nacional entre os árbitros paranaenses. Neste jogo vinha tendo uma atuação praticamente perfeita até os 37 minutos do segundo tempo, quando interpretou de forma equivocada o lance em que o defensor do Cascavel, dentro da área penal, aumenta a barreira corporal ao abrir o braço esquerdo em movimento não natural, caracterizando ação deliberada. O atleta evita o arremate e utiliza todo seu corpo. Na verdade ele não o faz objetivando a bola, mas tem consciência de que a bola poderá passar por ali e tocar em sua mão num gesto de bloqueio. Em suma, ele aumenta o volume do corpo e portanto corre o risco do choque com a bola. É a punição pela atitude irresponsável do jogador. Tiro penal não marcado que acabou comprometendo seu desempenho no jogo, haja vista tratar-se de lance capital, ou seja, uma grande decisão interpretada erroneamente. No mais, faltou apenas um cartão amarelo ao atleta do Atlético no primeiro tempo, ao interceptar a bola com a mão para impedir que o adversário tivesse a posse e desenvolvesse um ataque. Típica conduta antidesportiva. Os assistentes foram perfeitos sem quaisquer deslizes. O lance de maior dificuldade aconteceu aos 43 minutos do segundo tempo, quando o assistente 1, Moisés Aparecido de Souza, permitiu que o jogo seguisse e quase resultou no gol do Cascavel. Lance  ajustadíssimo que o experiente assistente acertou em cheio.