Dando sequência ao nosso ciclo de entrevistas com árbitros que marcaram história no futebol brasileiro, hoje vamos bater um papo com Leonardo Gaciba, árbitro gaúcho que pertenceu aos quadros da FIFA, eleito por quatro vezes o melhor árbitro do futebol brasileiro e que atualmente é comentarista de arbitragem da Rede Globo de Televisão.
Gaciba, fale um pouco sobre sua carreira e o que motivou a ser árbitro de futebol.
Meu começo como árbitro foi no Handebol, esporte que praticava na época. Como participava de uma equipe de arbitragem comecei a apitar diversas modalidades. Até que veio um convite para atuar na Associação Colonial de Pelotas, um campeonato amador muito forte na minha terra natal, Pelotas. Terminei o ano escalado na final e comecei acreditar que levava jeito para coisa. Tinha 18 anos e 2 anos depois já apitava a segunda divisão profissional Gaúcha. Em 1994 estreio no Gaúcho e em 1994 entro na CBF. Depois de 10 temporadas sou promovido ao quadro da FIFA onde permaneci por 4 anos. Em Novembro de 2010 deixo os campos depois de 22 anos dedicados ao apito.
Cite os momentos mais marcantes em sua carreira; o jogo inesquecível, aquele que você considera o mais difícil, etc.
Acredito que todos os jogos são importantes em momentos específicos da carreira de um árbitro. O primeiro profissional, o primeiro jogo na primeira divisão, a estreia no Brasileirão, libertadores, eliminatórias etc tudo alisei tempo teve grande importância! Finais marcam muito mas creio que os jogos mais difíceis sempre são os clássicos de seu estado de origem; no meu caso, os Grenais!
Gaciba, não posso deixar de perguntar. Você protagonizou um lance inusitado em nosso Estado no jogo Coritiba x Santos, marcando tiro livre indireto e advertindo o atleta Jabá do Coritiba no momento em que ele parou na frente do adversário e começou a passar o pé sobre a bola. Qual foi sua interpretação do lance? Se fosse hoje faria diferente?
Essa cena marcou muito o início de minha carreira no Brasil. Tem gente que até hoje fala que expulsei ou dei cartão para o Jabá, o que não é verdade. A verdade é que apitei o indireto para proteger o jogador. Naquele ano (2000) o Santos tinha uma grande equipe e saiu vencendo o Coritiba por 2x0 no Couto Pereira. Jabá entra e muda o jogo colaborando muito para uma virada sensacional para 4x2. Já no final do jogo sobre gritos de olé, Jabá pega a bola na lateral e começa a passar o pé por cima da bola como que chamando a marcação. Jogador de futebol não tolera essa atitude de desrespeito ao adversário. Um zagueiro do Santos estava ao meu lado e disse que iria quebrar a perna do Jabá. Quando ele começa a correr apito para evitar uma confusão. No campo, deu certo. Todos entenderam meu intuito é o jogo acabou sem conflito. Infelizmente a imprensa não entendeu igual aos atletas e divulgou que Garrincha não jogaria comigo apitando. Fazer o que? Será que seria mais legal deixar ele tomar o pontapé? Talvez hoje marcaria um indireto contra o defensor! Realmente não sei foi muito inusitado...
Em sua opinião, em que estágio está a arbitragem brasileira?
Creio que a arbitragem Brasileira está no mesmo estágio de nossa seleção. É jovem e em evolução. A renovação está muito rápida e isso dificulta a formação de novos talentos.
Conforme disse na resposta anterior, sim, mas creio que o tempo de maturação está sendo acelerado e isso cobra um preço alto!
Que dicas você deixa para a nova geração da arbitragem brasileira?
Sejam vocês mesmo! Por mais que a arbitragem requeira disciplina, árbitro robô tem carreira curta. Personalidade é fundamental!
Qual a sua opinião a respeito da profissionalização da arbitragem?
Sou a favor mas quem será o pau da criança? Quanto tempo será o contrato? Como investir em uma carreira que tem um mercado único com a incerteza de um amanhã? E aos 45 anos? O que farão os profissionais?
Qual a sua opinião sobre o fim dos árbitros assistentes adicionais?
Aqui não colou! Pouca gente está sentindo falta. Creio que a ideia é boa mas se eu fosse o legislador daria uma bandeira para eles mostrarem o que marcam. Do jeito que está parece que estão ali somente olhando o jogo.
Gosto muito do que faço. É muito gratificante seguir trabalhando com a minha paixão; a arbitragem. Hoje sou pedra, não mais vidraça! Mudei de lado mas, não de convicções! Procuro analisar os profissionais em suas atuações sem ser depreciativo. Não falo dos homens, falo dos árbitros e, sempre que possível procuro colocar o grau de dificuldade da decisão, afinal, só que já pisou no verde sabe o quão difícil é dirigir a maior paixão do Brasileiro.
Parabéns pela entrevista Baluta! Assim como todos os posts do seu blog, sensacional!
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